| CRÍTICAS | Terrorismo a Alta Velocidade

Com o descalabro que foi Soldado Universal – O Regresso, a carreira de Jean-Claude Van Damme batia no fundo, com o belga a ficar confinado ao straight-to-video. Os filmes que se seguiriam reflectiriam esse novo mínimo e Terrorismo a Alta Velocidade era o melhor exemplo dessa nova fase da sua filmografia. O filme de Bob Misiorowski é um suicídio cinematográfico, quase como se Van Damme tivesse desistido.

O nível de Terrorismo a Alta Velocidade começa logo a revelar-se quando percebemos que estamos a falar de mais uma variação do mais xunga dos filmes xungas, Força em Alerta 2. Ou seja, um filme de acção num comboio a alta velocidade, em que Van Damme, um agente secreto de uma força especial qualquer, tem que escoltar uma ladra internacional/artista de circo(!) (Laura Harring, essa mesmo, a de Mulholland Drive) da Eslováquia até à Alemanha. O problema é que, na paragem seguinte, entram no comboio uns terroristas que querem roubar a arma química que eles transportam e… a família de Van Damme (incluindo o seu próprio filho na vida real, Kris Van Damme, que ensaia umas caras de mau e um rotativo igual ao do pai), que lhe vai fazer uma surpresa. Afinal de contas, não parece ser um agente muito especial, se até a sua família consegue descobrir onde é que ele está… Enfim, com tudo isto ficam lançados os dados para Van Damme ter que salvar o mundo… e o seu casamento!

Lá mais para o final, a arma química há de se partir e os passageiros do comboio ficam todos contaminados, excepto… os que estão vacinados. E mesmo os outros ficam só com gripe. O que faz essa arma biológica a mais inofensiva da história das armas biológicas. Terrorismo a Alta Velocidade nem sequer sabe ser bom para si próprio. Dá ideia que tudo isso foi apenas para colocar a mulher de Van Damme (Susan Gibney) a correr de um lado para o outro, a dizer confiem em mim, eu sou médica, enquanto manda toda a gente beber muitos líquidos e manterem-se hidratados. Aí está, o único filme de Van Damme em que este combate a constipação, utilizando o senso comum (o que, hoje em dia, até parece muito, tendo em conta que, com a profusão das pseudo-ciências, até estas coisas aparentemente inofensivas se tornam perigosas).

O problema de Terrorismo a Alta Velocidade é que parece que toda a gente desistiu do filme ainda antes de ele começar. O argumento é ridículo e mal se aguenta de pé durante hora e meia, a edição é desastrosa e, além duns efeitos epilépticos e outras opções de gosto duvidoso, extremamente confusa, e os efeitos-especiais são ao nível de uma produção da Sy-Fy ou da Asylum. O problema é que, mesmo assim, o filme leva-se a sério, com uma série de maquetes de comboios a explodirem sempre que descarrilam. Mas como isto não chegava, Bob Misiorowski ainda achou por bem adicionar uma cena com um helicóptero (roubada descaradamente de Força em Alerta 2, mas com bonecos e explosões em CGI feitas em Spectrum) e outra em que Van Damme anda de mota sobre o comboio(!) e salta de carruagem para carruagem(!!) e até para outro comboio que vai a passar em sentido contrário(!!!).

Depois de Terrorismo a Alta Velocidade, a única questão que fica no ar é como é que a carreira de Van Damme sobreviveu (será que sobreviveu mesmo?). Um desastre autêntico, em que não há nada que se aproveite neste Pão com Manteiga.
Título: Derailed
Realizador: Bob Misiorowski
Ano: 2002

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