Steven Soderbergh, mui prolífero realizador que tem tudo para vir a ser “reavaliado” por uma nova geração de cinéfilos snobs num futuro mais ou menos próximo, anunciou o adeus aos relvados em 2013, promessa que tem mantido até há data. O filme que marcou o pendurar das chuteiras foi Efeitos Secundários, trabalho à semelhança do que foi a maioria da sua filmografia mais tardia: um filme rodado em digital, com orçamento modesto, alguns actores do costume e uma produção quase faça-você-mesmo.
Efeitos Secundários começa por ser a história de Rooney Mara e do seu reencontro com o marido, Channing Tatum, que acaba de sair da prisão onde cumpriu pena for fraude fiscal. Mas Mara está a braços com uma depressão, por ainda não ter encaixado muito bem o que se passou. E quando tenta o suicídio, vai parar ao consultório do psiquiatra Jude Law. Obviamente, este enche-a de comprimidos, medicação que vai alterando até encontrar o coquetaile certo que funcione e não comporte muitos efeitos secundários. A excepção são pequenos casos de sonambulismo.
Assim, enquanto Rooney Mara está no centro das atenções, Efeitos Secundários é um drama psiquiátrico, filmado tanto com economia de meios, como com grande economia narrativa. O que mostra como Soderbergh privilegia a história em detrimento da forma, dominando completamente os códigos e os signos da arte da narrativa.
Depois, Mara mata o marido durante uma crise de sonambulismo e Efeitos Secundários começa a enfrentar um terrível dilema moral: quem é o culpado, a doente depressiva que não se lembra e nada ou o seu médico que falhou a prescrição? Mas quando Efeitos Secundários parece estar a entrar no filme de tribunal, Jude Law começa a ficar cada vez mais tempo no spotlight e tudo se vai metamorfoseando lentamente num thriller psicológico.
De twist em twist, que vão chegando sem darmos por isso, Efeitos Secundários transforma-se numa espécie de A Raiz do Medo, em que nada é o que parece. Soderbergh sabe colocar e manusear as cartas que puxa a jogo, se bem que, por vezes, com tanta economia narrativa, parece que fica esquecido na montagem uma ou outra cena. Mas também é isso que permite ao filme um espírito descomprometido de série b (simples sem ser simplista), sem gorduras saturas e muletas dramáticas processadas. E Soderbergh é tão fiel a esse espírito xunga que até termina o filme com lesbianices entre Rooney Mara e Catherine Zeta-Jones. Quem diria que este McBacon iria fazer uma viagem destas e terminar assim?Título: Side Effects
Realizador: Steven Soderbergh
Ano: 2013
Logan Lucky, foi o filme do Soderbergh do ano passado. Qualquer dia está aí o Unsane. São umas botas mal arrumadas e uma promessa mal cumprida…
Golpe publicitário 😛
Bem, eu não me importo nada, porque gosto do estilo dele. Faz o que quer, sem dar cavaco a ninguém, e normalmente com bom aspecto.