Costuma-se dizer por aí que os críticos de cinema do Público só gostam de filmes checos mudos sobre anões em monociclos, mas o que é certo é que o Luís Miguel Oliveira não só gostou deste último Missão: Impossível – Fallout, como escreveu que, juntamente com o Planeta dos Macacos, este é o único franchise que anda por aí que vale minimamente a pena. Pois bem, desafiamos todos os outros que não gostam de filmes checos mudos sobre anões em monociclos a contestar esta afirmação.
Missão: Impossível – Fallout é, pela primeira vez, uma sequela directa do filme anterior, o que significa que, também pela primeira vez na série, repete um vilão (neste caso, o Solomon Lane de Sean Harris). No entanto, não precisamos de ter visto Missão: Impossível – Nação Secreta para perceber o que se passa aqui. Até porque é tudo muito simples: Ethan Hunt (Tom Cruise) tem uma nova missão, que consiste em recuperar uma mala cheia de plutónio roubado, e deter uma facção de terroristas anarquistas chamada de Apóstolos. E ainda há um tal de John Lark, que ninguém sabe quem é, e Henry Cavill, agente da CIA que vai avaliar o trabalho da equipa de Ethan Hunt, numa espécie de relação amor/ódio.
Missão: Impossível – Fallout não está cá para merdinhas e arranca logo a cem à hora, nunca parando para respirar. Tom Cruise viaja entre continentes, em mais uma intriga internacional, como um James Bond em speed, saltando de sequência de acção em sequência de acção. Já todos sabemos que Cruise dispensa duplos e que faz os seus próprios números (e foi bem falado o tornozelo partido numa cena em que salta entre prédios), mas isso continua a tornar tudo ainda mais espectacular. Há uma sequência incrível em queda livre, uma cena de porrada numa casa-de-banho com Cavill e Liang Yang que é do cacete e uma perseguição de motas nas ruas de Paris que volta a criar uma relação especial entre a série e motas desde o Missão: Impossível 2, de John Woo. Há já quem diga que Missão: Impossível – Fallout é o melhor filme de acção desde Mad Max – Estrada da Fúria, mas não é preciso exagerar. No entanto, há aquela sensação de acção non-stop, que sentimos pela primeira vez em… Die Hard – A Vingança?
O que é certo é que parece que começa a confirma-se aquela regra que diz que, quanto mais Tom Cruise corre, melhor é o filme. E o realizador Cristopher McQuarrie, que está a construir uma carreira apenas a fazer filmes com Cruise, sabe cada vez mais como tirar o melhor proveito do actor. E isso é o melhor de Missão: Impossível – Fallout. O pior é que há um argumento e este não é propriamente famoso. Há o tal John Lark, que adivinhamos quem quase ainda antes do filme começar, uma intriga meio frouxa para quem está habituado aos plots cheios de nós de Missão: Impossível e, claro, uma tentativa de subplot romântico que não ata nem desata e que mais parece um pretexto barato para enfiar à bruta no filme o elemento feminino.
Seja como for, não se vai ver melhor este ano no cinema no que diz respeito a filmes de acção, blockbusters e fogo-de-artifício. E estou a contar com os filmes todos da Marvel. E Missão: Impossível – Fallout continua a dar bom nome à série, com a habitual cena de máscaras à Scooby-Doo, a mensagem inicial que se auto-destruirá em segundos e, claro, a theme-song icónica. Quem diria que, ao fim de seis filmes, ainda estaríamos a encomendar um McChicken desta qualidade? E quem é que diria que, ao fim de seis filmes, Ving Rhames continuava de pedra e cal no franchise?
Título: Mission: Impossible – Fallout
Realizador: Christopher McQuarrie
Ano: 2018