Rob Grant, juntamente com o seu amigo actor Mike Kovac, fez um par de filmes de terror independentes meio-trash que tiveram relativamente sucesso no meio: Yesterday e Mon Mai, este segundo uma mistura do Fargo com Doidos à Solta(!). Nada que mereça muito destaque, mas que é importante para contextualizar este novo filme da dupla. É que, depois de terem recebido no email um vídeo de uns fãs a recriar uma das cenas desse filme, Rob Grant e Mike Novac decidem reflectir sobre a responsabilidade dos filmes de terror e dos seus autores junto da sociedade.
Eis a premissa de Fake Blood, documentário que procura responder às muitas dúvidas que sempre surgem quando algum maluco pratica um crime supostamente influenciado pela sétima arte. Rob Grant dá o exemplo do tipo que disparou sobre uma dúzia de pessoas na estreia de O Cavaleiro das Trevas, dos crimes influenciados por Chucky, O Boneco Diabólico e, claro, os inúmeros casos do infame Assassinos Natos. Na apresentação do filme, o director do MotelX, João Monteiro, dizia que uma das últimas vezes que este tema foi abordado no cinema foi com Brincadeiras Perigosas, filme que os admiradores do terror odeiam odiar.
No entanto, rapidamente Fake Blood se afasta do seu caminho. É que após uma ida a uma carreira de tiro e a um dojo, Rob Grant e Mike Kovac acabam por entrar, sem querer, num mundo de crime, perseguição e ameaças do qual não estavam à espera. Uma entrevista a um suposto criminoso levam-nos a um caso de homicídio e, de repente, estão metidos até ao pescoço num thriller policial, com gangsters, casas arrombadas e o programa de protecção de testemunhas a ajuda-los. A violência que procuravam entender e que sempre se habituaram a tratar como puro entretenimento, torna-se real e uma ameaça verdadeira às suas próprias vidas.
Portanto, Fake Blood não tem nada de documentário tradicional. Não há cá cabeças falantes ou a estrutura habitual deste género. No entanto, também nunca se percebe bem onde a realidade termina e começa a fabricação. Será verdade o que estamos a ver? Ou é, mais uma vez, o cinema a brincar com os limites entre realidade e ficção, baralhando-nos a cabeça (e, às tantas, O Projecto Blair Witch é referido por isso mesmo, será coincidência?)?. Por isso, Fake Blood anda ali entre o meta-documentário e o mocumentário. Cabe a cada um decidir no que quer acreditar.
Fake Blood nunca é verdadeiramente credível, mas tendo em conta que o o seu objectivo era reflectir sobre as responsabilidades do cinema na violência do mundo real, isso até nem é o mais importante. O problema é que, para o fazer, Rob Grant e Mike Kovac abusam daquilo que querem criticar ou, pelo menos, ponderar sobre. É que Fake Blood está cheio de reconstituições sangrentas e bem gráficas do (suposto) caso real que a dupla acaba a perseguir e cheio de manipulações baratas com violinos e banda-sonora típica do cinema de terror para nos dizer o que sentir a cada segundo. Apesar do material ser interessante, o tiro saiu-lhes pela culatra. E assim se justifica o Double Cheeseburger.
Título: Fake Blood
Realizador: Rob Grant
Ano: 2017