Mon Mon Mon Monsters chega-nos de umas latitudes cinematográficas das quais temos pouco acesso, pelo menos dentro do género fantástico. Normalmente é do Japão e da Coreia do Sul que nos chegam filmes de terror, gore, suspense e outros derivados. De Taiwan são mais as notícias das tensões com a China e a política desta de uma só China, os cortes de relações diplomáticas com antigo aliados comerciais (El Salvador, Panamá ou São Tomé e Príncipe) e o crescimento de um sentimento pró-independência que anda no ar.
No entanto, os temas que Mon Mon Mon Monsters aborda não têm nada a ver com isto. É antes sobre as temáticas universais do coming of age, numa aventura adolescente que pode muito bem ser vista como a resposta orienta ao Conta Comigo. Só que aqui o grupo de jovens, em vez de encontrar um cadáver, encontra um monstro: uma menina meio-vampiro meio-zombie, que vão torturar a seu bel-prazer. E essas formas de tortura que vão descobrir juntos vai ajuda-los a criar laços entre si, assim como a descobrirem coisas sobre as suas próprias vidas. Mas também vai atrair a irmã da monstrinha, que procura vingança.
Os captores da pequena criatura são os bullys do liceu lá do sítio, liderados por James Lai (a quem os outros tratam respeitosamente por chefe), mais Eugenie Liu, que não podia ser mais diferente. No entanto, aquela aventura conjunta e o segredo partilhado com os bullys tornam-no parte do grupo, fazem com que deixe de ser violentado diariamente e dão-lhe uma estranha sensação de pertença e de partilha. Por isso, Eugenie Liu está dividido: por um lado quer ajudar a monstra, por outro gosta daquela nova posição social. Fará isso dele tão culpado quanto os outros?
Mon Mon Mon Monstros vem rotulado com as etiquetas de terror e de comédia e esse é um trunfo grande. Ou seja, a forma como mistura com igual medida cenas de extrema crueldade (arrancamentos de dentes com alicates, aparafusamento de placas metálicas com berbequim à boca…) com outras de humor básico e até escatológico. De um lado, Mon Mon Mon Monsters tem os festins gore exagerados de um Takeshi Miike, mas por outro tem a sensibilidade de um… Wong Kar-Wai.
No final, o realizador Giddens Ko -. que é também um profícuo romancista, que vai com grande facilidade da ficção-científica às histórias de amor – patina um pouco e quase perde o pé do filme que constrói com mestria ao longo de hora e meia. No entanto, nada disso belisca o facto de este ser um belo filme. Fica é a ideia de que poderia facilmente ser algo mais do que o McBacon.Título: Guai Guai Guai Guaiwu!
Realizador: Giddens Ko
Ano: 2017