Apesar de ter dado a Jeff Bridges o seu único Oscar até à data, Crazy Heart não teve direito a estreia comercial em Portugal. Mais um daqueles mistérios obscuros que acontecem com o cinema no nosso país. Não que seja um filme particularmente bom, mas tendo em conta a quantidade de lixo que estreia todas as semanas nas nossas salas, Crazy Heart tinha lugar na agenda de caras.
Crazy Heart é a história do cantor country Bad Blake (tudo fictício, atenção), a quem Jeff Bridges dá corpo e alma, numa fusão entre o seu cowboy de Indomável e o espírito hedonista do mítico The Dude. Bad está velho e deprimido (e afogado no whisky, diga-se), numa altura em que a sua carreira está estagnada, tocando em espeluncas por meia dúzia de trocos para ir sobrevivendo e manter-se lembrado junto do público. Nem por acaso, quando o conhecemos está a chegar a um salão de bowling para uma actuação e lembramo-nos logo de O Grande Lebowski outra vez.
Crazy Heart é então uma espécie de travessia no deserto, com possível (ou não) redenção final. Tudo depende do caminho que Bad decidir tomar, porque a luz ao fundo do túnel está lá. Primeiro sob a forma da jovem jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal), com quem se envolve; e depois sob a forma do reencontro com a actual estrela do country, Tommy Sweet (Colin Ferrell), com quem pode repetir uma parceria que já deu frutos no passado.
Crazy Heart é uma espécie de O Wrestler, com música country em vez de luta-livre e com menos substância. Jeff Bridges leva o filme às costas, entre o melodrama foleiro e o telefilme de valores de produção elevados, só não indo mais longe porque o argumento manco não o deixa. Pelo meio, ensaia ainda as suas cordas vocais, numa banda-sonora de top, que faz lembrar o mais recente A Propósito de Llewyn Davis. Mais ou menos esquecível, Crazy Heart irá sobretudo ser lembrado como o filme que deu o Oscar a Bridges. Tem essa nota de rodapé e um McChicken que lhe permite ter o seu lugar na história.Título: Crazy Heart
Realizador: Scott Cooper
Ano: 2009