Era inevitável. Com Magnólia, um filme-mosaico épico de três horas, Paul Thomas Anderson não tinha como fugir às comparações com Robert Altman, o rei do cinema-coral. E desde esse filme que lhe ficou o rótulo, que na verdade até nem lhe assenta mal, pela forma clássica como filma histórias que são sobretudo sobre pessoas.
Magnólia é um filme sobre a vida, sobre pessoas e sobre coincidências, num mosaico de histórias que se cruzam entre si, sem terem necessariamente muito a ver umas com as outras. A unir tudo uma espécie de intervenção divina, de influências bíblicas, tanto pelas referências constantes à passagem 8:2 do Êxodo (incluindo uma praga bíblica e tudo), como ao processo de queda e redenção por que passam as suas personagens, com uma pontinha de sentimento de culpa, algo muito cristão.
No entanto, Magnólia não tem nada de religioso. É antes um retrato social e uma crónica de costumes à suburbia norte-americana, de alguma forma próximo de outro filme do mesmo ano, Beleza Americana (realizado por outro dos sucessores clássicos de Hollywood, Sam Mendes). Há então recalcamentos, paixões escondidas, moribundos arrependidos e, claro, um Tom Cruise numa das suas melhores personagens de sempre. Cruise é uma espécie de guru dos discursos motivacionais sobre como engatar mulheres, que tem o melhor lema de sempre:respect the cock and tame the cunt. É certo que também há a música da Aimee Mann na banda-sonora, que se tornou num verdadeiro otoverme (ao nível da de Donnie Darko), mas conseguimos ignorar isso com facilidade.
Apesar das três horas e da míriade de histórias e personagens cruzadas, Magnólia vê-se num fininho, sem enfado. E isso é o melhor elogio que se lhe pode fazer. Não é o melhor filme de Paul Thomas Anderson, mas é um McRoyal Deluxe que está lá bem em cima, no pódio.
Título: Magnolia
Realizador: Paul Thomas Anderson
Ano: 1999