| CRÍTICAS | O Interminável

Por alguma razão, as seitas e os cultos propagam-se nos Estados Unidos como cogumelos. Existem os casos mais conhecidos da Família, de Charles Manson, ou de Jonestown, mas basta dar uma vista de olhos pela secção de documentários do Netflix para descobrir uns quantos títulos desconcertantes (olá Wild Wild Country, olá Holly Hell). Por isso, quando percebemos que Aaron (Aaron Moorhead) e Justin (Justin Benson), os manos protagonistas de O Interminável, escaparam de um daqueles cultos no deserto que terminam com suicídio colectivo, não achamos isso estranho.

Mais estranho é quando os dois decidem lá voltar. Tudo bem que o mais novo não se consegue adaptar à vida normal e que há uma estranha cassete de vídeo que chega por correio, com uma mensagem de antigos colegas do culto, a estimular aquele apelo, mas todos sabemos o quão difícil é deixar uma seita. Aliás, basta ver o Deprogrammed, o documentário sobre o pessoal que tenta “deslavar” a cabeça depois de sair destas coisas. Por isso, quando os dois manos decidem ir visitar o Campo Arcadia, ficamos com a pulga atrás da orelha.

O Interminável é um pequeno fenómeno do cinema-fantástico do último ano, realizado-editado-filmado-e-interpretado pelos amigos Aaron Moorhead e Justin Benson com meia-dúzia de tostões, uma ideia e muita boa vontade. Vem na onda de outros filmes independentes do género, como Primer, provando pela enésima vez que, para se fazer um bom filme, não é necessário orçamentos milionários.

A citação a HP Lovecraft, logo a abrir o filme, já nos dá uma pista ao que vamos. A uma ambiente cósmico sobrenatural, em que nem sempre percebemos o que se está a passar, mas em que há sempre a sensação de que é algo importante que não podemos perder. Mesmo quando começam a surgir três luas no horizonte e o tempo parece repetir-se num loop interminável…

No final, a explicação pode não ser razoável para justificar toda aquela hora e meia de filme, mas O Interminável é uma proposta bem diferente do que estamos habituados a ver. Estreou há bem pouco tempo outro filme lovecraftiano, Mandy, as em que tudo é mais surreal do que este, que, apesar de tudo, mantém sempre uma âncora no real, que lhe dá uma outra suspensão da descrença. Não será o mais saboroso e espectacular dos Double Cheeseburgers que irá comer, mas é, sem dúvida, um dos mais intrigantes. E apesar do fastio, não vai conseguir deixa-lo a meio. 
Título: The Endless
Realizador: Justin Benson & Aaron Moorhead
Ano: 2017

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