A carreira de António Ferreira enquanto realizador sempre soube a pouco. Isto porque Esquece Tudo o que te Disse continua a ser um dos grandes títulos nacionais dos últimos anos e Embargo é um pequeno filme com muito potencial. Assim, por ser um realizador raro, é com grande entusiasmo que recebemos o seu regresso com Pedro e Inês.
A história da relação entre o futuro rei português, D. Pedro I, e Dona Inês de Castro é uma das maiores histórias de amor do imaginário e folclore nacional. É uma espécie de Romeu e Julieta à portuguesa, já que era uma relação proibida e teve final trágico. António Ferreira, a partir de um romance de Rosa Lobato Faria, vai mais longe nesta história de amor e projecta-a no tempo: para a actualidade e para o futuro. Três Pedros e Inês, três relações proibidas, três tragédias anunciadas.
Pedro e Inês é uma espécie de The Fountain – O Último Capítulo, na forma como a mesma história se desenrola simultaneamente em realidades temporais distintas. Há a reconstituição de época, que já foi adaptada anteriormente ao cinema e à televisão; há a história contemporânea, em que Pedro é um arquitecto casado que se apaixona pela nova estagiária do atelier; e há o futuro, numa espécie de comunidade em que os matrimónios são controlados para evitar os erros do passado. Os actores são também sempre os mesmos, com Diogo Amaral e Joana de Verona a mudarem o penteado consoante a época histórica.
Só que esta não é propriamente uma história de paixão, mas sim de obsessão. Narrada por um Pedro que está num hospital psiquiátrico depois de não ter resistido à perda (sem vos dizer em qual das realidades temporais), Pedro e Inês está para o cinema assim como um Every Breath you Take está para a música: uma narrativa sobre amor obsessivo, em que a vida sem uma das metades se torna impossível.
Mas o filme tem uma rigidez que não esperávamos de António Ferreira. É certo que nas melhores partes – especialmente na parte de época – se aproxima do melhor Manoel de Oliveira, mas na outra metade está sempre mais perto daquilo que deu mau nome ao cinema português: uma certa teatralidade e um ritmo baixo. O pior é a falta de intensidade, que o filme tenta compensar com o recurso à muleta narrativa do narrador, que aqui sente necessidade de explicar constantemente o que se passa, com o prejuízo de passarmos ao lado do que se está a sentir. Pedro e Inês não é um mau filme, mas não deixa de saber a pouco. E isso é o pior do seu Double Cheeseburger.Título: Pedro e Inês
Realizador: António Ferreira
Ano: 2018