| CRÍTICAS | Balas Assassinas

Se Sergio Leone é o líder incontestado dos western spaghetti, então Sergio Corbucci será o segundo melhor, a larga distância do terceiro. Afinal de contas, além de O Grande Silêncio, Corbucci é o autor do melhor Django de todos (e estou a incluir o do Tarantino nesta contagem, claro).

No entanto, um dos seus primeiros western spaghetti é Balas Assassinas, filme estrelado também por um anti-herói. Só é de estranhar é que Minnesota Clay não tenha dado azo a mais filmes, como aconteceu com Django, Sartana ou Sabata. Além disso, Balas Assassinas tem já várias características do género, que Corbucci domina: o forasteiro que chega para impor a ordem, a violência gráfica e bodycount elevado, os mexicanos como vilões em vez dos índios e o habitual tiroteio final.

Conhecemos então Minnesota Clay (Cameron Mitchell) na prisão, onde alega a sua inocência. Em poucos minutos, descobrimos que é um pistoleiro exímio, com uma espécie de sexto sentido, e que tem efectivamente bom coração. Por isso, quando no momento seguinte, já ele está a evadir-se, já estamos mais do que convencidos da sua real inocência. Ah, é verdade, também descobrimos que ele sofre de qualquer mal na vista – um médico olha-o nos olhos e diz não sou oftamologista, mas podes ficar cego a qualquer momento -, mas isso é assunto para outro parágrafo.

Minnesota Clay vai então para uma cidade fronteiriça na raia mexicana, onde os spaghetti westerns invariavelmente se passam, e onde Fox (Georges Rivière), um bandido local, poderá provar a sua inocência. Mas como este anda a) envolvido em rixas com uma gangue local de mexicanos, e b) demasiado ocupado a oprimir os moradores locais com chantagem, Minnesota vai acabar por ter que se envolver em ambas as histórias também. Até porque nessa vila vive também a sua filha, apesar desta não saber que ele é seu pai biológico.

Como o bom herói que é, Minnesota bola um plano infalível que, de uma só vez, irá pôr Fox na prisão, fazer as pazes com os mexicanos e provar a sua inocência junto da justiça. Mas plot twist: este plano falha logo no primeiro passo, o que é um major turn off. Tudo isto serve apenas para engonhar Balas Assassinas durante mais meia-hora, até que tudo desemboca no habitual tiroteio final que encerra todos os western spaghetti. A diferença é que Minnesota Clay vai ficar cego (nunca saberemos porquê, se bem que depois ele ficará curado ao… aparecer de óculos(!)) e despachar toda a gente apenas com a intuição, o seu tal sexto sentido e um ouvido apurado. Balas Assassinas é o Força Destruidora dos filmes de caubóis. Ou então, tal como Leone andou a ver muito Kurosawa, também Corbucci viu o Zatoichi.

Com as habituas limitações financeiras do género, Balas Assassinas é uma espécie de rascunho para os filmes seguintes de Sergio Corbucci. Por isso, o Cheeseburger poderá ter rellativa piada, mas não chega sequer aos calcanhares de O Grande Silêncio ou de Django.

Título: Minnesota Clay
Realizador: Sergio Corbucci
Ano: 1964

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *