| CRÍTICAS | The Bouncer

Continuamos a ver ansiosamente todos os filmes de Jean-Claude Van Damme na sempiterna esperança de que esse é que é, esse é que vai redimir todos os outros falhanços anteriores e permitir dizermos finalmente, de forma triunfante, Van Damme voltou. E, enquanto isso, continuamos a recusar aceitar que esse filme já aconteceu e se chama JCVD.

O que é certo é que parece que isso ia acontecer mesmo com este The Bouncer (também conhecido por Lukas, o título inicial). Basta ver o trailer para notar que já algo ali acima da média neste filme de Julien Leclercq, que até teve distribuição comercial (limitada, claro), nos Estados Unidos. E nem sequer falo do facto do filme se passar na Bélgica natal do actor (finalmente!) ou de ele fazer de… segurança de discoteca. Olá Profissão: Duro, estás bom?

Adorava ter visto o pitch de quem conseguiu vender a ideia de Profissão: Duro. Imagino uma sala cheia de engravatados endinheirados e um tipo entusiasmado a explicar imaginem o Patrick Swayze num bar de alterne a fazer de porteiro e toda a gente a irromper em aplausos. O incrível é que isso não só aconteceu, como funcionou, não uma, mas duas vezes. Imaginem o Van Damme a fazer de segurança numa discoteca! Mas é um Van Damme velho, depois de uma carreira como guarda-costas e ainda a digerir o assassinato da esposa (um clássico).

É esta a premissa de The Bouncer, que depois ainda mete o belga entre a espada e a parede, em que tem que fazer trabalho junto, tanto para o seu patrão (um falsificador manhoso) como para a polícia (corruptos e brutos). Parece ser a sinopse do enésimo filme xunga do belga (e é), mas Julien Leclercq filma-o como um drama negro.

É quase como se fosse um neo-noir, mas com porrada de criar bicho em vez de cops and robbers. É sempre de noite, está quase sempre de chuva e as sombras carregam o filme, tanto simbólica quanto literalmente. Já, inclusive, uma femme fatale, mas frágil o suficiente para ser salva (simbólica e literalmente) por Van Damme.

Van Damme continua a aprimorar o eu novo estilo de (anti)herói, silencioso e introspectivo, à medida que vai envelhecendo, mas The Bouncer é todo ele de Julien Leclercq. O realizador não se limita à mera ilustração tarefeira e imprime-lhe uma marca distinta, seja numa bela e estilizada perseguição automóvel com tiroteio num parque subterrâneo, seja especialmente nos longos travellings à Os Filhos do Homem, como um plano-sequência brutal em que Van Damme invade uma casa cheia de capangas armados para extrair um tipo.

The Bouncer não é ainda filme de Van Damme (repararam no artigo definido em itálico?), mas é a melhor coisa que o Muscles from Brussels fez desde JCVD, E, por isso, o McBacon é assumidamente inflaccionado. Não queremos saber, só queremos é que The Bouncer seja o mais visto possível porque realmente merece.

Título: The Bouncer
Realizador: Julien Leclercq
Ano: 2018

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