É difícil perceber o que nos aconteceu lá dentro da sala de cinema, quando saímos de Selvagens. Por um lado, tínhamos lido que íamos ver um filme realizado pelo norte-americano Dennis Berry, mas com produção portuguesa, mas afinal vimos apenas um filme de escola (de escola secundária, não de escola de cinema), com adolescentes e poucos valores de produção. Então em que ficamos?
Selvagens parece uma espécie de exercício, em que deram a Dennis Berry quatro actores e uma casa e disseram agora faz um filme. E se Dennis Berry tivesse 15 ano, claro. Só isso poderia ser uma explicação minimamente aceitável para justificar a existência de Selvagens.
Catarina Wallenstein é então uma artista tão famosa quanto controversa, que um dia chega a casa – um belo casarão decadente à beira-Tejo – e está lá Nadia Tereszkiewicz, fã, ex-presidiária e aspirante a escritora. Rapidamente as duas criam uma forte afinidade, tanto criativa quanto emocional, a quem mais tarde se juntará o irmão mais novo e sem-abrigo da segunda, assim como o seu ex-namorado anarquista procurado pela polícia.
O problema de Selvagens começa logo os erros de casting dos actores, já que todos eles são crianças (e maus actores, se bem que isso é um minúsculo pormenor quando comparado com todo o filme). Nem toda a suspensão da crença do mundo nos deixa acreditar que Catarina Wallenstein é uma artista famosíssima e riquíssima com aquela idade. Ou que Hugo Fernandes, que aparenta ter uns 15 anos, é um rebelde activista com uma longa lista de ofensas à autoridade, incluindo um assalto a uma carrinha de valores e uma temporada com os separatistas bascos. É que mal custa a acreditar que ele já sabe atar os sapatos, quanto mais…
Mas não é de ingenuidade que sofre Selvagens – até porque isso até pode ter o seu charme -, mas sim de presunção. Dennis Berry tenta imprimir-lhe a liberdade da nouvelle vague, saltando o eixo constantemente por exemplo, mas soa tudo a mimetização barata, enquanto que a sua história de rebeldes românticos a viverem a vida pela vida e pela arte parece ter sido escrita por um adolescente que acabou de descobrir Bauldelaire, o punk e beat generation. Ou isso ou Berry apanhou Os Sonhadores na televisão, viu-o na diagonal, e quis fazer um remake com o que se lembrava de cabeça.
Estão a ver aqueles filmes que, de tão maus se tornam bons? Não é o caso, Selvagens é só mau. E só vai piorando. O máximo que consegue é fazer-nos rir às vezes, se bem que por vergonha alheia. Como uma cena em que as miúdas vão a andar na rua, encontram uma banda a tocar no passeio, mas totalmente electrificada (com bateria micada e tudo), com quem fazem logo uma actuação(!). O melhor de Selvagens? A duração, que é curtinha e que assim não maça muito. Tudo o resto? Um Pão com Manteiga.
Título: Selvagens
Realizador: Dennis Berry
Ano: 2018