| CRÍTICAS | Velvet Buzzsaw

O mundo da arte, independentemente da área de expressão, é um mundo que recompensa muito mais a sorte, os contactos e (sobretudo) o dinheiro do que o mérito e o talento. Sempre foi assim e todos o sabem, mesmo que muitos não o queiram reconhecer e outros tantos achem que é um problema recente criado pela arte contemporânea. Não é! A diferença é que o capitalismo contribui para amplificar essas características.

Velvet Buzzsaw atira-se ao mundo da arte coo um doberman raivoso à jugular de um inimigo, com a determinação de não deixar ninguém escapar ileso. Os críticos, os posers, os galeristas, os coleccionadores…. Todos são um alvo neste novo filme de Dan Gilroy, numa produção Netflix.

O primeiro problema de Velvet Buzzsaw começa logo por nunca percebermos qual a verdadeira intenção de Gilroy e quão irónico o filme realmente é. Por um lado, há personagens com nomes como Morf Vandewalt ou Jon Dondon, artistas com nomes de técnicas de cunnlingus (velvet buzzsaw, anyone?) e toda uma postura exageradamente kitsch (já para não falar de John Malkovich a fazer pela enésima vez de John Malkovich, perdão, de artista pedante), mas depois tudo é levado demasiado a sério. Por isso, todos os lugares-comuns que pisa sobre a criação artística, por exemplo, não são mais do que clichés armados ao pingarelho.

Depois Dan Gilroy enfia um pauzinho na engrenagem daquele universo artístico que cria: um tipo desconhecido morre e deixa uma criação absolutamente incrível, que vai apaixonar os galeristas (Rene Russo e Toni Collette), o críticos (Jake Gyllenhall), outros artistas (Malkovich e Daveed Diggs) e, consequentemente, o público em geral. A partir daí, Velvet Buzzsaw dá uma guinada e entra de frente no slasher sobrenatural, já que há algo naqueles quadros que vai fazer a folha a todos aqueles que tentarem lucrar desavergonhadamente com eles.

Mas é um slasher totalmente inconsequente, daqueles da fase má de Wes Craven, que se diverte mais sozinho do que a divertir os espectadores. Por exemplo, a forma sôfrega com que está sempre a mostrar as obras do tal artista falecido como se fossem a maior coisa desde o pão fatiado não podia ser mais anti-tesão. Lembramo-nos de Cigarette Burns, o episódio de John Carpenter para o Masters of Horror, sobre um filme proibido que fazia as pessoas arrancar os próprios olhos quando o viam, e que é a coisa mais assustadora e perturbadora que nunca vamos ver em cena.

Velvet Buzzsaw cai então em todas as armadilhas que monta ao início e nem sequer parece aperceber-se disso. Um desolador Happy Meal. Diz mais O Quadrado numa cena sobre o mundo da arte do que todas as duas horas de Velvet Buzzsaw.

Título: Velvet Buzzsaw
Realizador: Dan Gilroy
Ano: 2019

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