| CRÍTICAS | Creed 2

Se há alguém que tem contribuído para cumprir muitos dos sonhos molhados de quem teve uma educação cinéfila no final dos anos 80, esse alguém é, sem dúvida, Sylvester Stallone. Pode ser mais divertido continuar a acompanhar os maus filmes de Van Damme e Schwarzenegger pode ter sido o que teve a melhor carreira, mas é Stallone quem melhor compreendeu o que significou a sua filmografia e tem sabido honrar esse legado.

Por muito que tentemos, nunca iremos conseguir agradecer-lhe o suficiente pelos três Os Mercenários, esse filme que juntou todos os nossos sacos de músculos favoritos. E, mesmo sendo já um avô respeitável, Sly continua a dar-nos episódios do Rambo ou do Rocky que, não só não envergonham, como são bem dignos das respectivas séries.

Assim, Creed II continua a fazer a transição entre Rocky Balboa e o seu sucessor, Adonis Creed (Michael B. Jordan), o filho do seu antigo rival e bff Apollo Creed (Carl Weathers), podendo ser encarado duplamente. Ou seja, como a sequela de Creed ou como o oitavo(!) episódio do Rocky. E se Creed: O Legado de Rocky era um remake desse primeiro tomo, de 1976, Este novo Creed II é o remake de Rocky IV. E, pasme-se, isso não é uma crítica negativa.

Rocky IV era, portanto, o tomo em que Rocky Balboa acabava com a Guerra Fria, ao derrotar a super-máquina de guerra soviética Ivan Drago (Dolph Lundgren) em pleno solo russo. Agora, 150 anos depois, Stallone volta a subir ao mesmo ringue do que Lundgren, não para se defrontarem novamente, mas porque o filho desse, Marko (Florian Munteanu), vai desafiar Adonis Creed, que é treinado por Rocky.

Creed II não vale apenas por ter os tomates de promover esse reencontro (até porque, todos os reencontros anteriores de Lundgren com outro seu nemésis, Jean-Claude Van Damme, foram desastrosos), mas também pela carga simbólica. Afinal de contas, foi Ivan Drago que matou Apollo Creed em ringue, depois de este se pavonear em excesso de confiança, ao som do Living in America, o último grande hit de James *vénias* Brown.

Por momentos, a história parece que se vai repetir. Marko Drago chega à Rússia e, como o bom armário que é, desfaz Adonis Creed facilmente. Este fica com uma crise de confiança, há a crise familiar e regressa Stallone para o treinar e resolver tudo. Como? Com uma montage, claro, desta vez no deserto e ao som de country rock. A estrutura é exactamente a mesma de Rocky IV e isso acaba por cansar. Se, por um lado, até tem piada rever Brigitte Nielsen, por outro lado ter Tessa Thompson a fazer de James Brown não se compreende.

Creed II percebe então que tem um legado para trabalhar, mas parece deslumbrar-se com ele e limita-se a repisar as mesmas pegadas. E se em Creed: O Legado de Rocky isso tinha algum impacto, porque era novidade, aqui perde-se o efeito nostalgia e fica-se sempre a lamentar não se ter explorado mais as personagens dos Dragos, agora caídos em desgraça pela derrota do pai às mãos do yankee imperialista e que tentam tudo neste comeback. Teria sido um filme bem mais interessante que este Double Cheeseburger. Esperemos que o Rocky IX seja o Drago I.

Título: Creed II
Realizador: Steven Caple Jr.
Ano: 2018

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