Waiting for a girl who’s got curlers in her hair
Waiting for a girl she has no money anywhere
We get buses everywhere
Waiting for a factory girl
Factory Girl – The Rolling Stones
Sempre que leio algures o título deste Factory Girl, a minha mente associa-o automaticamente à música dos Rolling Stones com o mesmo nome. O que é que isto tem a ver? Absolutamente nada. Mas por alguma razão obscura, pareceu-me uma boa introdução para as linhas seguintes.
A factory girl a que se refere o filme é Edie Sedgwick, uma das mais iconográficas Warhol girls. Andy Warhol foi, quiçá, o mais importante artista da arte contemporânea, que definiu todos os conceitos sociais da sociedade actual: as super-estrelas, os 15 minutos de fama e o amor pelo plástico (no sentido figurado e literal). Por isso, o seu universo já foi explorado mais do que uma vez no cinema e com resultados bem satisfatórios: I Shot Andy Warhol ou The Doors – O Mito De Uma Geração, por exemplo. Assim, qualquer filme que surja sobre o mesmo tema, tem logo à partida uma fasquia demasiado alta com que se debater…
Factory Girl parece ter logo antes de começar um grande factor simbólico com o elenco escolhido pelo realizador George Hickenlooper, começando logo pela protagonista: Sienna Miller, que continua a ser descrita por toda a gente como uma promissora e bonita actriz, quando na verdade toda a gente a conhece por ter um par de cornos famosos, cortesia de Jude Law. Depois, até há para lá perdida uma das gémeas Olsen (a primeira vez que uma delas aparece no grande ecrã sem a outra ao lado), símbolo máximo do estrelato artificial que os Estados Unidos fabricam.
Com duas actrizes desta craveira, Hickenlooper parece que se viu na obrigação de não as ofuscar e por isso chamou para o papel de Bob Dylan (aqui rebaptizado de Billy Quinn), o pior actor da sua geração – Hayden Christensen. Uma heresia, portanto. Hayden Christensen está tão mal, que até Jimmy Fallon (sim, também por lá anda) parece merecer um Oscar. O único que se safa é Guy Pearce, que assim prolonga dignamente a dinastia de Andy Warhols, depois de Crispin Glover, David Bowie e Jared Harris.
Edie Sedgwick foi então a Warhol girl que melhor espelhou a essência da arte de Warhol: a futilidade, o glamour, a superficialidade e os tais 15 minutos de fama. Depois disso, definhou numa espiral de drogas, ostracizismo e irrelevância, até à overdose fatal. No entanto, George Hickenlooper escusava de se ter esforçado em manter Factory Girl tão oco quanto possível.
Assim, Factory Girl limita-se a retratar Edie Sedgwick como um fantasma unidimensional, uma miúda mimada sem grande personalidade. Uma espécie de Stoned – Anos Loucos, sem qualquer respeito por quem quer que seja. Bob Dylan então, sai mesmo muito mal da fotografia. E Factory Girl limita-se a vogar pela Nova Iorque dos anos 70 sem uma única âncora nem tão-pouco um porto que lhe desse guarida. Além disso, para quem está familiarizado com a história, Factory Girl é uma enorme manta de incongruências. Normalmente, os bio-pics dão-se à liberdade de alterar factos reais a favor da dramatização do filme; mas aqui, os factos são adulterados apenas por que sim…
Factory Girl é uma enorme desilusão, que limita a pobre Edie Sedgwick a uma miúda com azar no amor. Segundo o filme de Hickenlooper, se ela tivesse ficado com o Bob Dylan em vez do Warhol nada disso tinha acontecido. Demasiado redutor para uma personagem com tanto para contar. Agora percebo porque é que Bob Dylan obrigou a que o seu nome não aparecesse envolvido e porque é que Lou Reed disse que o filme era uma remessa de imbecilidades.
Gostava de conseguir resumir toda a minha opinião a uma feliz tirada espirituosa como o fez o Village Voice (escreveu este jornal que Factory Girl era um biopic of Edie Sedgwick for dummies). Mas como não o consigo e, habitualmente, apenas me limito a associa-los a menus de hamburgas, não vou tentar nenhuma analogia mirabolante e vou rematar o texto com uma palavra apenas: Cheeseburger.
Título: Factory Girl
Realizador: George Hickenlooper
Ano: 2006