| CRÍTICAS | Dumbo

Estão a ver aquele meme do Pepperidge Farm? Apetece fazer um em relação ao cinema de Tim Burton. Esperem aí, deixem-me lá ir ao meme generator num instantinho.

Eu ainda sou do tempo em que a estreia de um novo filme do Tim Burton era um acontecimento e deixava-nos ansiosos, com pele de galinha. Entretanto, a coisa foi amolecendo, os seus filmes foram tornando-se cada vez mais pastelões e o seu cinema começou a tornar-se cada vez mais desinteressante numa relação inversamente proporcional ao seu estatuto. Foi mais ao menos ali por volta de Charlie e a Fábrica de Chocolate que isso começou a acontecer. É mais ao menos um fenómeno semelhante ao de Emir Kusturica, realizador cuja obra se tornou maior que o próprio criador e este deixou de saber lidar com isso.

Por isso – e principalmente após a desinteressante Alice no País das Maravilhas -, uma versão do Dumbo assinada por Tim Burton já não nos diz o mesmo que diria se tivesse sido anunciada há uma década atrás. A isso alia-se o facto de que os restantes filmes desta série de adaptações de clássicos da Disney a imagem real também não estarem a ser propriamente inspirados para justificar estas baixas expectativas.

Não deixa de ser irónicoque o Dumbo original tenha sido uma produção quase low cost da Disney no ido ano de 1941, sendo este agora uma produção milionária, inflada até mais não, com Tim Burton a perder-se no gigantismo do próprio filme fascinado pelo seu próprio fascínio. Dumbo incha e incha como um balão, até deixar de se conseguir mover dentro do seu próprio filme, tropeçando nos próprios pés quando tenta fazer algo mais arriscado e, por isso, limitando-se a manter dentro dos mínimos recomendados.

A história todos a conhecem: Dumbo é um elefante-bebé que nasce com umas orelhas gigantes, num circo modesto cheio de outras aberrações. No entanto, este é uma espécie de A Parada dos Monstros higienziado, uma vez que aqueles freaks não podiam ser mais inofensivos. Danny DeVito, num overacting algo irritante, faz então uma parceria com o empresário Michael Keaton (que é aqui um vilão bem mais assustador do que o seu Abutre, no universo Homem-Aranha, provando pela enésima vez que o capitalismo é mais assustador que qualquer outra coisa) e leva Dumbo para um parque de diversões gigante, onde os interesses economicistas se vão sobrepor aos princípios humanistas mais básicos.

Dumbo é realizado quase em modo automático, sem falhas por parte de Tim Burton, mas também sem grandes rasgos de asa. Só no último terço é que este dá um ar da sua graça, com o parque de diversões de Michael Keaton a tornar-se no comboio-fantasma perfeito para Burton explorar a sua obsessão pelo cinema de terror clássico de Hollywood. Mas rapidamente isso se esgota e desaparece, regressando o filme polidinho e bonitinho, que aposta tudo no factor fofinho do elefantinho. Por isso, sem sem propriamente mauzinho, leva para casa um Double Cheeseburgerzinho, que não ofende, mas também não deslumbra ninguém… zinho.

Título: Dumbo
Realizador: Tim Burton
Ano: 2019

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