A Guerra dos Tronos vai acabar. Os cenários magníficos, os efeitos especiais magistrais, a quantidade incrível de gente, as inúmeras histórias que correm em paralelo… Só é pena ser tão mal escrita.
Por estes dias as pessoas andam nas redes sociais em disputa tentando ganhar o título de “pessoa que está mais ansiosa por que comece A Guerra dos Tronos”. Anda gente crescida a guinchar como pré-adolescente num concerto do Justin Bieber (ou lá o que os pré-adolescentes gostam hoje…), gente dotada de juízo crítico e, apesar de tudo, bom gosto, gente que, caramba!, eu até respeito. Olho estupefacto, como tenho feito nos últimos anos, sem conseguir perceber como é que uma série tão mal escrita pode ser tão amada.
Sim, já sei que é muito difícil escrever uma coisa desta magnitude, com tantos enredos que se cruzam, tantas personagens, tantas histórias… É verdade. Mas também é verdade que a proficiência técnica do Steve Vai não faz propriamente dele um bom guitarrista. Pelo menos entre as pessoas de bom gosto.
Já perceberam que estou a fazer tudo ao meu alcance para insultar o maior número de pessoas possível e só por motivos de falta de espaço não aproveito para dizer mal dos Pink Floyd, dos Radiohead e da porcaria de O Senhores dos Anéis. Mas a minha desavença com A Guerra dos Tronos não é só embirração. Chamem-me doido mas eu gosto de ver séries onde toda a santa personagem não é um aglomerado de clichés. Senão vejamos:
Jon Snow: O coitadinho sempre pensou que era menos que os outros mas sabe o seu lugar e é muito honrado. Vai-se a ver e não é que não só não é menos do que os outros, como até é mais? Ele há coisas…
Samwell Tarly: É gordo e fisicamente tem a destreza de um calhau. Só podia ser muito esperto e muito boa pessoa.
Tyrionn Lannister: Olha, é bêbedo e puteiro, mas no fundo é uma alma muito sensível e muito justa por debaixo da capa de fanfarrão. Por esta ninguém esperava!
Cersei Lannister: Bonita, depravada e má como as cobras! Não tem respeito nenhum pela sua flor (até a dá ao irmão!) e é má para toda a gente excepto para os filhos. Tem uma relação edipiana com o filho. Quem diria?
Joffrey Baratheon: É um miúdo mimado com poder ilimitado. Só podia ser um grande filho da puta, não é isto verdade?
Jaime Lannister: O bonitão parece que tem tudo o que quer mas parece que a única coisa que quer, não pode ter. Parece que é incesto. E ninguém percebe as tempestades de dor que se passam por debaixo daquela pele bem tratada de bonitão.
Stannis Baratheon: Coitado, não é má alma. O problema são as companhias.
The Hound: Com certeza que um brutamontes daquele tamanho não pode desenvolver afecto por uma pirralha que acha que é o Chuck Norris, pois não? E não é que desenvolve mesmo? Awwww!
Arya Stark: O quê? Uma rapariga que gosta de coisas de rapazes, e apesar de ser pequenina, é muito mais letal do que parece? Inventam tudo…
Sansa Stark: Porque nunca na vida se explorou a ideia de uma personagem feminina, filha de famílias privilegiadas, que não percebe nada da vida e que preferia morrer à fome do que comer um pão com chouriço com as mãos. Só faltava porem-na a passar as passas do Algarve para ela abrir o olho!
Daenerys Targarien: Faltava esta, não era? O único que defeito que tem é ser teimosa. Pode-se pensar que vem de famílias privilegiadas, mas sofreu muito às mãos do irmão, coitada. Ainda assim, não se esquece dos coitadinhos e, qual Isabel Jonet dos Sete Reinos, lá anda a salvar alma atrás de alma. As pessoas brancas e louras são assim: muito dadas a salvar povos.
Ficamos por aqui? O problema é mesmo que por debaixo deste espectáculo todo de luzes e som, não há nada. Há uma carrada de personagens estereotipadas a tentarem foder-se umas as outras seja de que maneira for. Há uma data de gente que quer um trono que, francamente, me parece muito feio e bastante excessivo (aposto que dá cabo do feng shui de qualquer sala) e eu não poderia estar menos interessado em saber quem vai ganhar.
São histórias de gente privilegiada que, coitada, passa por muitas privações. Uns que são uns malvados que só querem fazer o mal, outros que são bonzinhos que querem ajudar os camponeses a fazer o seu trabalho sem seremdecapitados.
Uma série que confunde quantidade com qualidade não merece metade da histeria que esta tem. Eu cá continuo sem perceber como é que isto desperta tantas paixões, mas isso sou eu, que ouço um solo do Steve Vai e mudo logo de estação.
*por Diogo Augusto