O Projecto Blair Witch foi um fenómeno como não voltará a haver igual. É certo que já tinha havido found footage movies antes (alguém mencionou Holocausto Canibal?), mas O Projecto Blair Witch aproveitou o início da internet para viralizar o filme. Criaram-se notícias falsas e espalharam-nas pela rede e, por algum tempo, toda a gente acreditou que aquelas cassetes encontradas na floresta eram mesmo reais.
A história era simples. Três jovens estudantes de cinema haviam saído um fim-de-semana para filmarem um documentário sobre a lenda da bruxa de Blair, na floresta das redondezas, e nunca mais foram vistos. Agora, anos depois, alguém encontrou as suas câmaras. O que íamos ver nos cinemas era então um rough cut do que eles filmaram.
O Projecto Blair Witch redefinia ao mesmo tempo o conceito de filme independente e de baixo custo. Os realizadores Daniel Myrick e Eduardo Sánchez arranjaram três actores (Heather Donahue, Michael C. Williams e Joshua Leonard), deram-lhes uma steadycam e uma 16m para as mão e mandaram-nos para o meio do mato. Conta que não havia propriamente um argumento. Os actores, ao longo dia, tinam que se deslocar do ponto a para o b, filmando tudo pelo caminho. E à noite, enquanto dormiam em tendas, eram assustados pela produção.
O que torna O Projecto Blair Witch eficaz, mesmo visto à distância e sem o efeito uau de quem viver a experiência viral e acreditou nela (não gozem, tinha 15 anos na altura)(, é que joga com os medos mais básicos e primitivos do ser humano. Não há nunca avistamentos fantásticos ou aparições dúbias. É apenas o medo do escuro, muitos ruídos assustadores e coisas suspeitas, como montinhos de pedra ou bonecos feitos de pau. E, claro, gritos de crianças. Há algo mais assustador do que gemidos de crianças à noite.
O Projecto Blair Witch é então um ovo de Colombo, um pequeno filme de terror que manipula os símbolos mais básicos do género e acerta em cheio na mouche. E a prova de que foi um filme muito à frente do eu tempo é que foram precisos 20 anos para o found footage criar finalmente escola. Por isso, para quem viu o filme em 1999 e enquanto documento histórico, é um Royale With Cheeese; para quem o vê hoje, com a devida distância temporal, é ainda um mui respeitável McRoyal Deluxe.
Título: The Blair Witch Project
Realizador: Daniel Myrick & Eduardo Sánchez
Ano: 1999