| CRÍTICAS | Bem-Vindo à Zombieland

Só a abertura de Bem-vindo à Zombieland é uma daquelas que ganha logo o filme. Tudo começa com um grande plano da bandeira dos Estados Unidos e o hino a dar por trás. Contudo, este começa a desafinar e, quando o plano abre, o cenário está todo devastado. E na direcção da câmara corre um zombie, a cuspir baldes de sangue sem razão aparente. Mas o melhor é o genérico que arranca logo a seguir, numa sequência de cenas de zombies a perseguir cidadãos nas mais variadas situações, ao som dos Metallica, quando ainda compunham músicas que nos faziam querer ser do metal: From Whom The Bells Tolls *mãos a fazer corninhos*. E não resisto a abrir um aparte e revelar já que o climax do filme se faz com os Black Keys e os créditos finais com os Raconteurs. E na banda-sonora ainda há Howlin Rain, Velvet Underground ou Hank Williams. Há melhor bom gosto do que este?

Bem-vindo à Zombieland não é o típico filme de zombies, como devem calcular. O realizador, Ruben Fleischer, confessou que a inspiração para o filme deve-se a Shaun of the Dead, mas se não o dissesse nós adivinhávamos. Bem-vindo à Zombieland é uma paródia inteligente ao género e, apesar de os tratar mesmo por zombies e de os pôr a correr, desmonta de forma bem-disposta a maioria dos seus clichés. Por isso, Bem-vindo à Zombieland pode ser descrito como Shaun of the Dead americano, apesar de se aproximar também de coisas míticas como Wild Zero. Tudo porque se dedica mais à história de amor e ao boy Smeets girl do que ao próprio zombie-flick.

Columbus (Jesse Eisenberg naquela fase em que nunca sabíamos se era mesmo ele ou o Michael Cera), um geek cheio de fobias, é a personagem central de um mundo tomado pelos zombies. Arrancamos no filme a meio deste mundo destruído e, se bem que há umas explicações (vagas, claro) para o que se passa lá no meio do filme, não é nada que prestemos atenção. Nem interessa! O que começa por intressar é a lista de regras que Columbus tem para sobreviver aos zombies, ou não fosse ele um paranóico-obsessivo (e com problemas de intestinos(!)). E esses mandamentos – que incluem usar sempre cinto de segurança ou uma boa preparação no jogging – vão aparecer regularmente em originais motion-graphics sempre que são colocadas em prática.

Mas isto não é o Eu sou a Lenda e Columbus não é o último humano são no mundo. Por isso, vai encontrar um companheiro de viagem, Tallahassee (Woody Harrelson), um cowboy com um gosto peculiar em matar zombies, conduzir carros grandes e manejar armas ainda maiores. Ambos são solitários e apercebem-se de uma situação irónica: agora que estão sozinhos no mundo, sentem falta das pessoas. Juntos vão-se complementar e, para dar mais condimento à coisa, é ainda inserido a componente romance, com as irmãs Wichita e Little Rock (Emma Stone e Abigail Breslin). 

Se não fossem os zombies, Bem-vindo à Zombieland era um simples feelgood movie com a escola dos filmes indie (olá Eu, Tu e Todos os que Conhecemos, olá Garden State), cheio de referências à cultura popular (incluindo um duelo de banjos à la Fim-de-semana Alucinante). Mas também se não tivesse zombies, Bem-vindo à Zombieland não tinha interesse nenhum. Ou seja, fica aqui provado que violência gráfica estilizada fica sempre bem em qualquer filme (e explosões de sangue à Takeshi Kitano também). No entanto, a cereja no topo do bolo é um cameo delicioso de Bill Murray a fazer dele próprio (ups, lá estou eu a abrir spoilers tarde demais) e a lamentar ter feito *argh* Garfield – O Filme.

Mal estreou, falou-se logo de uma sequela, que chegou a estar anunciada para 2011, e imaginou-se logo um longo franchise de sucesso. No entanto, 2011 passou e os ânimos arrefeceram, especialmente depois de uma série televisiva pouco entusiasmante. Agora parece que vem mesmo aí a sequela. Vamos lá ver se repete o sabor deste Le Big Mac.

Título: Zombieland
Realizador: Ruben Fleischer
Ano: 2009

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