| CRÍTICAS | A Perfeição

No outro dia, numa sucessão de buscas mais ou menos aleatórias, fui parar a um fórum qualquer onde se discutia A Perfeição. Não me recordo o que dizia, mas por qualquer motivo fiquei com o título na cabeça. E, quando se tem memória selectiva, isso não é um pormenor de somenos. Assim, ao me cruzar com ele na Netflix, tive que lhe dar uma oportunidade.

A Perfeição começa em modo thriller psicológico. Depois de um retiro forçado de uma década por razões familiares, a violoncelista prodígio Charlotte (Allison Williams) regressa à conceituada escola privada onde aprendeu a tocar e conhece a sua sucessora, Lizzie (Logan Browning). Ao contrário de Cisne Negro, a relação que se forja entre as duas não é de rivalidade, mas sim de cumplicidade. E, antes que consigamos soletrar violoncelista correctamente sem recorrer à ajuda do corrector ortográfico, já as duas estão a partilhar os lençóis.

Depois, há uma guinada e A Perfeição entra em modo Hostel, mas na Ásia em vez da Europa de Leste. Aproveitando as férias de Lizzie, Charlotte junta-se numa road trip por terras chinesas secundárias, onde vão ter que enfrentar a desconfiança local, problemas de comunicação, uma estranha infecção viral e alucinações brutais.

Há mais uma guinada e A Perfeição regressa ao thriller mais psicológico, depois da incursão pelo body horror a la Cronenberg. Desta vez, voltamos à escola privada de violoncelo de Anton (Steven Weber), que afinal é só uma fachada para algo mais perverso. Suspiria vem à memória, por causa do formato. Mas eis mais uma moeda, mais uma voltinha, e A Perfeição dá nova guinada. Mais um twist e, de repente, estamos em território gore, mais sangrento, com o filme a tornar-se numa midnight session.

Portanto, A Perfeição são muitos filmes num só. E, apesar das referências serem todas boas, torna-se difícil aguentar a suspensão da descrença com tanto twist. É que, para aguentar tanto twist, temos que engolir muita coisa pouco credível. O que, para um filme que é um quatro em um, é demasiado ambicioso. O que faz com que as mensagens de emancipação feminina, tão pertinentes nestes tempos de #metoo, fiquem completamente soterradas e sem nada para dizer. Sobra o Happy Meal e aquele plano final que lembra o Paixão Selvagem.

Título: The Perfection
Realizador: Richard Shepard
Ano: 2018

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