Depois de ter recebido o título oficial de sucessor da nouvelle vague, Cristophe Honoré atinge finalmente a maioridade. Agradar, Amar e Correr Depressa é o filme que deixa para trás os exercícios de cinéfila de Em Paris ou As Canções de Amor, em que tanto homenageava Truffaut como Demy, e se agarra num filme mais seu, onde já é possível ler com clareza a sua assinatura.
Não é que Agradar, Amar e Correr Depressa não jogue esse jogo de referências, mas elas aqui são mais notas de intenções (e de cinefilia assumida) do que parte do aparelho cinematográfico. Por exemplo, há a cena em que o jovem aspirante a realizador de cinema vai visitar o túmulo do próprio François Truffaut e há outras referências menos óbvias: Fassbinder, Carax e até o Orlando, de Virginia Wolf, mas na versão do Robert Wilson para a Isabelle Huppert.
Agradar, Amar e Correr Depressa é um romance de grande fôlego, que dá dois passos atrás antes de se lançar no que realmente tem para dizer. Ou seja, começa por nos ir apresentando Pierre Deladonchamps, autor mais ou menos estabelecido e seropositivo, que vai conhecer numa ida a Rennes o jovem Vincent Lacoste, por quem se vai apaixonar. Mas como a fatalidade está à espreita e Pierre não quer viver um amor para o qual não tem tempo suficiente para desfrutar em pleno, as contradições da vida vão atormenta-lo em dose dupla.
Apesar destes conflitos interiores, que incendeiam e alastram a quem se movimenta perto de si – um filho, um ex-amante em fase terminal ou um vizinho intelectual -, Agradar, Amar e Correr Depressa é o filme mais contido e mais bem comportado de Honoré. Falta-lhe mais patos, nem que seja através da música, que foi sempre um dos seus meios favoritos para atingir os objectivos.
Devido ao tema da sida, é inevitável a comparação a Noites Bravas e a 120 Batimentos por Segundo. Mas tanto lhe falta o sofrimento do primeiro, como a militância do segundo. É apenas um filme mais suave, mas com todas as contradições da vida e um McChicken a acompanhar.
Título: Plaire, Aimer et Courir Vite
Realizador: Cristophe Honoré
Ano: 2018