| CRÍTICAS | Chamem-me Dolemite

Eddie Murphy precisava de um filme a sério, que o recuperasse de vez para o cinema. Depois de década e meia a enterrar a sua carreira com filmes da treta, desbaratando por completo o seu crédito junto do público, a sua presença no grande ecrã tem sido cada vez mais rara. E, apesar de parecer escolher agora os filmes a dedo, até nisso não tem tido muita sorte. Incluindo em Dreamgirls, onde lhe roubaram o Oscar.

Comecemos já pelo fim para despachar isto e dizer que Chamem-me Dolemite ainda não é esse filme. Cá para mim isto só vai ao sítio quando Quentin Tarantino chamar Eddie Murphy para um dos seus próximos trabalhos. Lembrem-se depois que leram isso aqui pela primeira vez, ok? No entanto, Eddie Murphy continua em óptima forma. E até Wesley Snipes é bem-vindo aos nossos ecrãs outra vez, naquele que é o seu melhor filme desde… ia escrever desde que saiu da prisão, mas nem me recordo qual foi o último bom filme que fez.

Chamem-me Dolemite é o biopic de Rudy Ray Moore, pioneiro do stand-up comedy e do rap. Sem Rudy Ray Moore não haveria Richard Pryor e, por sua vez, não haveria Eddie Murphy e, por sua vez, não haveria Dave Chappelle e por aí fora. Ou seja, sem ele não haveria toda uma história de humor afro-americano. Além disso – e além de um papel também importante no cinema blaxpoitation e na comédia -, Rudy Ray Moore foi ainda determinante para o imaginário pimp do hip-hop. Num jogo de meta-referências, Snoop Dog (um dos primeiros a recuperar Rudy Ray Moore para o hip-hop de hoje) aparece também em Chamem-me Dolemite.

Além de prestar tributo a este pioneiro da comédia, Chamem-me Dolemite é também uma história inspiradora sobre determinação, tenacidade e do típico underdog que consegue triunfar contra todas as expectativas, algo que o imaginário norte-americano tanto adora. No entanto, falta a Craig Brewer ir mais a fundo e não pegar na história pela rama. Falta-lhe um maior contexto socio-cultural, já que não chega ter as roupas da época para que o filme tenha a pertinência que deveria ter. E falta-lhe ir igualmente mais fundo no próprio Rudy Ray Moore. Podia estar aqui um outro Homem na Lua. E, no entanto, nunca percebemos se a intenção de Craig Brewer é a de representar um pateta feliz, que teve uma sorte tremenda na vida, ou se era um tipo extremamente inteligente, que teve visão para triunfar no mundo do espectáculo.

Chamem-me Dolemite é, no entanto, um filme escorreito, para se ver de enfiada sem qualquer tipo de fastio. Primeiro porque tem Eddie Murphy num registo em que se sente nas sete quintas e que faz com uma perna às costas; e segundo porque tem graça mesmo a sério. E, afinal de contas, quem foi Rudy Ray Moore? Imaginem uma espécie de Fernando Rocha em versão Richard Pryor. Agora imaginem que além de dizer umas chalaças, tinha também feito uns filmes tipo Ninja das Caldas. Touché! Eis o material de que é feito este McBacon.

Título: Dolemite is my Name
Realizador: Craig Brewer
Ano: 2019

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