É difícil perceber o que aconteceu a Proud Mary – A Profissional. Parece que das duas uma: ou alguém gostava muito da canção dos Credeence (mas a versão da Tina Turner, claro) e queria fazer um filme qualquer a partir do tema; ou alguém queria fazer um neo-blaxploitation, cheio de temas motown e afins. O certo é que, no final, nem uma coisa nem outra. Aliás, após os primeiros minutos em que há um ar destas ideias, rapidamente elas se desvanecem, para dar lugar a uma das mais deslavadas coisas que estrearam ultimamente (sempre?).
Proud Mary – A Profissional começa então com Taraji P. Henson num genérico inicial cheio de groove ao som do Papa was a rolling stone, dos Temptations, que parece saído directamente dos anos 70. Contudo, tirando a tal cena do climax ao som do Proud Mary, a única vez que voltaremos a ouvir soul e funk é uma curta aparição do Don’t Let me Be Misunderstood, pela voz de… Meshell Ndegeocello. Acabou-se rapidamente o blaxploitation, bem-vindo ao straight-to-video xunga.
Taraji P. Henson é então a Mary do título, uma implacável assassina que vai adoptar um puto (Jahi Di’Allo Winston), a quem matou o pai em tempos, espoletando uma guerra entre gangues. O filme tem sido comparado muitas vezes a Glória, mas até o subtítulo em português prefere fazer antes referência a Leon – O Profissional, pela relação próxima entre um adulto e uma criança (mas aqui sem qualquer tensão sexual).
Já vimos mil e quinhentos filmes assim e não é por isso que deixaríamos de ver Proud Mary – A Profissional. O problema é que o realizador Babak Najafi parece nem se esforçar em nada. A relação de Mary com o miúdo é sempre a mesma – grito dela, grito dele, não fales comigo assim, desabafo dele, cara cúmplice dela -, as cenas de acção são um bocejo enorme com munições infinitas e sangue em CGI manhoso e a edição… bem, a edição é terrível. Num diálogo a câmara é incapaz de se manter no rosto de ninguém por mais de 3 segundos e acabamos qualquer conversa com náuseas.
Chamar derivativo a Proud Mary – A Profissional é favor. Uma trapalhada descomunal! E tanto quiseram fazer um blaxploitation actual (como se o Shaft tivesse corrido bem, não é?) que apenas se concentraram numa das características do género: o do argumento pobrezinho. Este Pão com Manteiga não se recomenda nem aos piores inimigos.
Título: Proud Mary
Realizador: Babak Najafi
Ano: 2018