E se lhe dissermos que o teflon, o das frigideiras anti-aderentes onde praticamente cozinhamos todos os dias, é altamente venenoso? E que esse componente está presente num sem-número de produtos que usamos diariamente? E que se estima que 100 por cento dos seres humanos do mundo estão contaminados por ele? Provavelmente diria que estamos a exagerar, mais ou menos como os maluquinhos do glifosato (Scimed, pode falar sobre isto?), mas é isto mesmo que Dark Waters – Verdade Envenenada nos diz.
Dark Waters – Verdade Envenenada é um filme-denúncia, muito ao estilo de Erin Brokovich, baseado no caso real de um advogado habituado a defender grandes empresas, que passou para o lado de cá da barricada para desmascarar a firma do teflon, que durante 40(!) anos esconderam propositadamente a evidência de que o politetrafluoretileno (santinho!) é prejudicial à saúde e envenenaram o solo e a água de um lugarejo norte-americano. A acção granjeou-lhe tantos inimigos quanto cabelos brancos, mas recompensou-o com o altruísmo e o reconhecimento das grandes causas.
Por isso, Dark Waters – Verdade Envenenada é também um filme de causas, com uma mensagem ecológica forte numa altura crítica para a sustentabilidade ambiental. Mark Ruffalo empenhou-se em fazer este filme acontecer e é ele que dá corpo ao tal advogado, de seu nome Rob Bilott. Ruffalo parece sempre que está em sofrimento constante e aqui não é diferente. O seu ar dorido, de quem está sempre com uma dor algures daquelas que não se pode, faz com que o filme também tenha essa dor e um ritmo dormente, de quem sabe que tem muita coisa para dizer e que não quer deixar nada de fora, sem ser suficientemente claro.
O realizador Todd Haynes acompanha Mark Ruffalo nesta demanda, numa empreitada anónima, mas competente. No final, saca do McChicken para levar para casa e a única pergunta que fica é esta: estará ou não contaminado pelo teflon?
Título: Dark Waters
Realizador: Todd Haynes
Ano: 2019