| CRÍTICAS | Mulheres Acorrentadas

Alguém deveria fazer qualquer coisa antes que os filmes de mulheres-na-prisão caiam no esquecimento. Este subgénero do cinema exploitation que, de forma involuntária ou subversiva, empoderou mulheres no grande ecrã na década de 70 (da mesma forma de que os filmes de Russ Meyer), merecia já ser mais falado do que é.

Como o próprio nome indica, o género mulheres-na-prisão é caracterizado por serem filmes com… mulheres(!) na prisão(!!). Se, por um lado, são filmes misóginos e que objectivam o corpo da mulher, por outro acabam por as tornar protagonistas dos seus próprios filmes (quando, em 2020, continuamos ainda a discutir a baixa representatividade feminina no cinema contemporâneo) e em coloca-las em posições de poder, enquanto mulheres fortes e independentes, que normalmente procuram a fuga da prisão.

Pam Grier, que se tornou rainha do género e que, graças a isso, saltaria para o estrelato de outro subgénero do exploixation, o blaxploitation, é a protagonista de Mulheres Acorrentadas, ao lado de Margaret Markov. As duas estão encarceradas numa prisão das Filipinas, onde não se gramam muito, mas acabarão por se evadirem devidamente acorrentadas uma à outra.

A estrutura é clássica: duas mulheres, uma negra outra branca, que se odeiam, mas que vão ter que cooperar juntas para alcançarem os seus objectivos. Apenas um ano depois, a dupla repetiria a fornada com A Arena, mais um mulheres-na-prisão multirracial, mas desta vez ambientado nas arenas dos gladiadores do império romano.

Depois de uns primeiros vinte minutos de exploração gratuita do corpo feminino, com muitas maminhas à mostra e uma guarda da prisão (Lynn Borden), que se masturba a ver as prisioneiras a dar banho e as solicita para favores sexuais, o realizador Eddie Romero liberta Grier e Markov na selva filipina, onde terão que se desenrascar sozinhas. Isso incluirá roubarem os hábitos a duas freiras, matarem um tipo que tenta se aproveitar delas e fugirem dos cães de caça da polícia.

É nesta altura que entra em cena as outras peças do argumento de Mulheres Acorrentadas. É todo um sem-número de sub-enredos totalmente desnecessários, de diferentes facções que vão estar no encalço das duas mulheres: filipinos revolucionários, polícias corruptos e criminosos a soldo. É aqui que surge Sid Haig, um cowboy que surge sempre ao som de country manhoso, que vai aproveitar qualquer oportunidade para matar ou para ir para a cama com alguém.

Todas estas personagens secundárias acabarão por tirar tempo de antena a Pam Grier e Margaret Markov, que assim só surgem a espaços. Nem sequer terão tempo para uma evolução como deve ser de inimigas a amigas: num momento odeiam-se de morte, na cena seguinte já são bff. Por isso, Mulheres Acorrentadas tinha muito mais a ganhar se poupasse mais nas longas cenas de tiroteios (são muitas e extremamente aborrecidas) e se preocupasse mais com as suas protagonistas. O Happy Meal tem mais valor simbólico do que nutritivo.

Título: Black Mama White Mama
Realizador: Eddie Romero
Ano: 1973

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