| CRÍTICAS | She-Man

Em 1952, o norte-americano George Jorgensen aterrava na Dinamarca para iniciar o seu processo de mudança de sexo. A agora chamada Christine Jorgensen tornava-se na primeira mulher transexual do mundo e, regressada aos Estados Unidos, tornava-se uma celebridade, aproveitando essa visibilidade para se tornar numa activista pelos direitos trans.

Aproveitando esse boom, surgiram nos cinemas uma série de filmes a tentar capitalizar esse tema, andando sempre a raiar o exploitation e a extravaganza. Um dos mais curiosos exemplos será este She-Man: A Story of Fixation, nem que seja por ter sido o primeiro trabalho de um então muito jovem Bob Clark, esse mesmo, o autor de Porky’s.

Bob Clark também demonstra em She-Man uma faceta activista pró-trans. O filme inicia-se com um psicólogo a falar directamente para a câmara, como se fosse um documentário, explicando porque é(ra) errado conotar o travestismo com perversão (como era criminalizado na altura) e as implicações que isso tem para a saúde mental. No final, o psicólogo volta a aparecer para apresentar as suas conclusões. No entanto, o caso que é apresentado entretanto, nada tem a ver com o que é falado, porque She-Man é uma bizarria que faz pouco sentido.

Tal como Christine Jorgensen, o protagonista de She-Man (Leslie Marlowe) também serviu no exército dos Estados Unidos. É o típico homem norte-americano, cheio de testosterona, que acaba chantageado pela misteriosa Dominita (Dorian Wayne), que faz um estranho pacto com ele. Durante um ano, terá que ser a sua criada, vestido de mulher e tomando inclusive uns comprimidos de estrogénio para que a transformação seja completa.

Os motivos nunca são claro e serve apenas de pretexto mal-amanhado para Leslie Marlowe andar o filme todo vestido de mulher. She-Man é um pequeno filme de baixo (sem?) orçamento, com actores anónimos e Bob Clark a tentar pôr em prática, aqui e ali, o que aprendeu na escola de cinema, nomeadamente na luz e no recorte das sombras. Infelizmente também não houve dinheiro para a banda-sonora e tudo o que se houve são meia-dúzia de acordes jazz que nada têm a ver com o tom do filme ou irritantes sequências de sons minimalistas.

Portanto, não há muito para se aproveitar em She-Man, sem ser as boas intenções da sua mensagem final e o freakshow exploitation que procura explorar de forma desavergonhada. Não consegue nem um nem outro, mas fica pelo menos para memória futura, como exemplo de curiosidade mórbida. A Hamburga de Choco nunca trouxe nada de bom.

Título: She-Man – A Story of Fixation
Realizador: Bob Clark
Ano: 1967

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