| CRÍTICAS | O Massacre

Dino De Laurentiis, um dos grandes responsáveis pela nossa educação cinéfila xunga, tinha o sonho de produzir a adaptação de Desafio Total, a partir do livro de Phillip K. Dick, mas o negócio não andava bem. Por isso, decidiu fazer all-in: agarrou na sua nova coqueluche, Arnold Schwarzenegger, com quem tinha feito os dois Conans (e Kalidor – A Lenda do Talismã), e investiu tudo em O Massacre, na esperança que o retorno viesse no dobro ou no triplo.

Infelizmente, o filme foi um semi-fiasco de bilheteira, De Laurentiis foi a falência e teve que vender os direitos do livro à Carolco (que viria a fazer o filme, em 1990, com… Schwarzenegger). No entanto, O Massacre permanece com um dos mais sui generis trabalhos da filmografia de Arnie. É que este é, provavelmente, o mais sangrento e mortífero filme da sua carreira.

Schwarzenegger é então um ex-agente do FBI, que acabou relegado a xerife duma terriola qualquer depois de ter partido os ossos todos (literalmente) a um pedófilo violador que apanhou. Agora, enquanto vive uma vida de tédio juntamente com a mulher a caminho de se tornar alcoólica (Blanche Baker), Arnie pode ter encontrado uma forma de voltar à acção a sério. Um antigo amigo polícia convida-o a infiltrar-se no submundo do crime de Chicago para apanhar o mafioso Luigi Patrovita (Sam Wanamaker), o rei da máfia, numa vendeta pessoal.

Arnie não diz nada à mulher (que desaparece do filme para nunca mais aparecer; para que raio foi então aquele drama todo com o seu alcoolismo?) e rebenta com uma fábrica de nafta para simular a sua morte (porque que outra forma há de fingir a própria morte do que rebentar com a fábrica de um homem inocente e deixar centenas no desemprego?), antes de se mudar para Chicago. Veste um fato todo supimpa e, de mansinho, vai-se infiltrando na rede maviosa de Patrovita, para ganhar a sua confiança.

De repente, é tudo uma confusão incrível. Roger Ebert escreveu, na altura, que o argumento de O Massacre parece ter sido escrito por alguém com luvas de boxe calçadas. Schwarzenegger anda para a frente e para trás. afazer biscates para os mafiosos, destruindo casinos ilegais ou bares gay, à medida que surgem outros sub-enredos que não interessam para nada (mais Kathryn Harrold, o seu interesse romântico). Até que há uma altura em que lhe ordenam que mate um polícia (assim, super-aleatório) e, quando ele chega lá, percebe no último instante que é o seu amigo. Porque, caso não fosse, teria-o despachado na boa. É isso que fazem os polícias sob disfarce, não é?

É então que Arnie se decide divertir. Vai buscar um arsenal a casa, mete-se num descapotável, enfia uma cassete com o Satisfaction a bombar em altos berros na rádio e vai matar toda a gente à metralhada. Se pensávamos que o massacre do título se referia à cena inicial do filme, então o final escarrapacha-nos na cara como estávamos enganados. O realizador Jonh Irving, uma espécie de Sam Peckinpah menos capaz, não se limita a ilustrar o gore e a violência gratuita. Fa-lo com savoir faire e um par de momentos acima da média. O Massacre é o Cheeseburger mais violentamente fetichista de Arnie e, só por isso, merece um lugar especial no seu trabalho.

Título: Raw Deal
Realizador: John Irvin
Ano: 1986

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