| CRÍTICAS | Outbreak – Fora de Controlo

A experiência de ver hoje Outbreak – Fora de Controlo é bem diferente de quem o viu em 1995. Primeiro porque hoje, com a licenciatura, mestrado e doutoramento que todos tirámos em virologia pelo facebook e televisão, permite-nos dar lições a Dustin Hoffman e ao governo norte-americano em como lidar com e epidemia do fictício vírus Motaba; e segundo porque, quando uma pequena cidade colocada em quarentena se revolta contra o exército e irrompe em confrontos violentos, já não achamos a coisa irrealista. Para nós, é só terça-feira outra vez.

Se Outbreak – Fora de Controlo já era pertinente quando saiu, em plena crise de ébola no Zaire, hoje em dia é duplamente pertinente, com a pandemia do covid-19. No entanto, este vírus – o Motaba, o nome do vilarejo no Zaire onde foi detectado – é bem diferente do covid-19: é altamente mortal, com uma taxa de letalidade de 100 por cento; tem um período de incubação de 24 horas; e transmite-se que nem pãezinhos quentes por via aerossol. Obviamente que se é para se fazer um filme-catástrofe há que o fazer à grande, sempre foi esse o mote de Wolfgang Petersen.

Aliás, Petersen, que sempre teve um fraquinho pelo filme-catástrofe, filma Outbreak – Fora de Controlo como um filme de guerra. Mais uma vez, já não achamos isso estranho. Desde que Emmanuel Macron começou a usar linguagem bélica para se referir ao covid-19 que a coisa pegou e passámos a estar em guerra. Só não sabemos é contra quem… No entanto, como bom blockbuster que é, Outbreak – Fora de Controlo está confinado aos Estados Unidos. Afinal de contas, se são eles os salvadores do mundo, é normal que as tragédias aconteçam apenas lá.

O motaba é então um virus destrutivo que, contra todas as probabilidades, chega aos Estados Unidos e se espalha rapidamente, por culpa de um Patrick Dempsey que tem uma passagem pelo filme ainda mais rápida. Dustin Hoffman e a ex-mulher, Rene Russo, são os grandes especialistas locais que vão tentar controlar a coisa. Para isso, precisam de detectar a fonte da doença e neutralizarem-na, para poderem criar a vacina milagrosa. E como Hoffman e Russo estão em processo de separação, a coisa vai ser alimentada com as rotinas do screwball, o que acaba por dar um ritmo inesperado e agradável a um filme, aliviando-o ao mesmo tempo de todo o protocolo e jargão técnico.

A primeira parte de Outbreak – Fora de Controlo é a melhor e é aquela em que mostra como o vírus chega aos Estados Unidos e se propaga facilmente por entre as pessoas. Para quem ainda não percebeu porque está em isolamento social (não confundir com quarentena), esta é uma lição em poucos minutos. Depois, a coisa começa a ganhar contornos militaristas, de conspiração (pelo menos não caem na tentação de irem pelo caminho das teorias da conspiração da Big Pharma, do 5G e afins) e de até onde pode ir o Governo/Exército para proteger os seus cidadãos. E, finalmente, acaba tudo numa parvoíce pegada de dois homens a tentar apanhar um macaco.

Houve uma altura em que Wolfgang Petersen fazia isto com uma perna às costas: contar uma história de destruição sem que o seu próprio filme se auto-destruísse. Obviamente que em Outbreak – Fora de Controle o realizador alemão tem vários aliados de peso, incluindo quatro vencedores de Oscar: Dustin Hoffman, Morgan Freeman, Kevin Spacey e [lol]Cuba Gooding Jr.. Mas o filme alia em quantidades iguais seriedade e entretenimento, humor e drama, romance e acção, tragédia e esperança. E isso é a receita ideal de um McBacon – que tem um saborzinho especial quando degustado nesta altura.

Título: Outbreak
Realizador: Wolfgang Petersen
Ano: 1995

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