A ganância do dinheiro gerou uma série de fenómenos de exploração na sétima arte que são incríveis de pensar como foram possíveis de acontecer. O meu favorito é o Bruceploitation, uma quantidade parva de kung fu movies que surgiram após a morte prematura de Bruce Lee, com sósias do actor (os Lee-alikes) ou, quando os protagonistas não eram parecidos sequer, chamados de coisas como Bruce Li, Bruce Ley ou Bruce Lay. Finalmente, Jackie Chan viria pôr um ponto final nessa palhaçada.
Outro caso clássico desta exploração gratuita surgiu com os filmes Emmanuelle. Depois do sucesso do filme homónimo, o mundo da erótica ganhou uma série de cópias manhosas, com muitas maminhas e pouco conteúdo, que geralmente eram variações de nunexploitation movies, onde belo subgénero do cinema b. E, claro, depois há o exemplo que nos traz a este texto, o de Django. Depois do sucesso do original, de Sergio Corbucci, surgiram sequelas à patada e mais umas variações genéricas manhosas, de Shangos, Durangos e… Cjamangos.
Estão a ver quando o Wish nos impinge nos seus anúncios omnipresentes no Facebook coisas genéricas de produtos que pesquisámos anteriormente? Cjamango é assim! Para quem queria ver o Django, mas não tinha dinheiro para o original, eis Cjamango. O nome é parecido, mas nem sequer faz sentido. Um C e um J seguidos? Como assim? Mas o mais interessante desta variação bastarda de Django é que o protagonista, Ivan Rassimov, acaba por fazer uma versão do Homem sem Nome de Clint Eastwood, de olhar semi-cerrado e poncho.
Outra curiosidade divertida é que o próprio Rassimov iria lançar nesse ano, com o mesmo realizador, Edoardo Mulargia, a sua própria versão de… Django. Chama-se Django Não Espera… Mata e, mesmo sem ver, quase que sabemos como é o filme. E até ao final da sua curta filmografia, Mulargia ainda faria mais um Django e… Shango. Um verdadeiro especialista.
Como de costume no western spaghetti em geral e nos filmes de Django em particular, Cjamango, O Vingador é um vengeance movie, em que Cjamango é um pistoleiro implacável que vai tentar recuperar o ouro que lhe roubaram na primeira cena (depois de o ganhar no póquer). No entanto, Cjamango vai acabar envolvido numa luta de gangues, com um misterioso vendedor de bebidas alcoólicas como observador (Mickey Hargitay, o marido de Jane Mansfield, o outro nome reconhecível deste filme), que encerrará tudo com um plot twist.
Mas o mais imprevisível do filme não é esse twist final, é antes o facto de Cjamango adoptar um miúdo, que a aldeia abandona por achar que ele está infectado com a peste. Uma faceta humanista pouco normal nestas aventuras. Apesar do gaiato ser um choramingas irritante como o caraças, Cjamango acaba mesmo por ter que se render quando os maus lhe atam dinamite e puxam fogo ao pavio, para fazer chantagem. É a melhor cena de Cjamango, O Vingador.
Cjamango, O Vingador é a habitual sucessão de tiroteios barulhentos, com um bodycount altíssimo até para os padrões do western spaghetti, com laivos misóginos (Hélène Chanel é a mocinha do filme), muitos Mexican standoffs e uma banda-sonora reminescente do que Ennio Morricone fez na Trilogia dos Dólares. Mas para herói, Cjamango não sai nada bem na fotografia. Levam-lhe o ouro duas ou três vezes, é alvejado mais umas quantas e, no final, só ganha por causa da intervenção providencial da mocinha. Há pouco para ver aqui. Peguem no Happy Meal e dispersem, vá, sem confusão.
Título: Cjamango
Realizador: Edoardo Mulargia
Ano: 1967