| CRÍTICAS | Rixa no Bloco 99

Em 1995, Michale Bay fazia Os Bad Boys e inaugurava um novo tipo de blockbusters, que viriam a fazer escola. Filmes action driven levados ao limite, alimentados a explosões cada vez maiores e mais barulhentas, num crescendo segundo uma lógica de jogo de vídeo. Ao longo da sua carreira, Bay foi levando esta estratégia ao limite, esvaziando completamente o filme de argumento até se tornar numa única e non-stop cena de acção (olá Transformers: O Último Cavaleiro), num gesto pós-pós-modernista. E todos os que vieram a seguir o copiaram.

Até que surgiu S. Craig Zahler e fez algo muito simples. Pegou no blockbuster deixado pela herança Michael Bay e desacelerou-o. Não significa isso que os seus filmes sejam parados ou estáticos, mas são filmes com um batimento cardíaco mais compassado, sem deixarem de ser action driven na mesma.

Além disso, Zahler não tem problema em abrir parêntesis gigantescos nos seus filmes (no último Na Sombra da Lei há toda uma side story de uma caixa num banco, de uns 20 minutos, desde que sai de casa de manhã até acabar morta no assalto que marca o filme) ou de se demorar nos prólogos. Por exemplo, Rixa no Bloco 99 é todo ele um enorme prólogo, que dura mais de uma hora.

A primeira metade do filme é então a história de Vince Vaughn, um ex-pugilista tornado traficante de droga, que acaba preso por 7 anos depois de uma transação que correu mal. Já lá dentro, é obrigado a tornar-se cada vez mais violento, para o mudarem primeiro: para uma prisão de segurança máxima, e segundo: para a ala de segurança mais mais apertada, onde poderá matar um prisioneiro e satisfazer o bandido que tem a sua mulher (e filha por nascer) reféns. Ou seja, assim que chega à prisão, Vince Vaughn transforma-se no Bronson.

Podemos dizer que Rixa no Bloco 99 é um slow burner, mas os filmes de S. Craig Zahler nunca explodem realmente. A violência só se vai tornando cada vez mais gráfica e irreal, indo beber directamente à estética exploitation dos anos 70. As sequências de pancadaria são insanas e incluem Vince Vaughan a esmurrar demoradamente um automóvel(!), Vince Vaughn a lavar o chão de uma cela com a cara dum mau(!!) e Vince Vaughn a decapitar o vilão ao pézão.

No final, Rixa no Bloco 99 não tem qualquer moral. É apenas um desmiolado filme de acção, que podia muito bem ser um blockbuster, se não fosse o seu ritmo desacelerado. Numa altura em que o slow life é um movimento com cada vez mais adeptos, S. Craig Zahler é o realizador a seguir. Os seus McChicken são maturados como nenhum outro.

Título: Brawl in Cell Block 99
Realizador: S. Craig Zahler
Ano: 2017

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