O Síndrome de Capgras é um transtorno no qual uma pessoa passa a acreditar que um familiar próximo foi substituído por outra pessoa. Apesar de ser um delírio raro, o cinema está cheio de exemplos. E todos eles são perturbadores. Incluíndo Birth – O Mistério, que mesmo sem ser um grande filme, causava alguns arrepios na espinha sempre que o miúdo tentava convencer a mãe de que era o pai entretanto morto. E, claro, para provar que a realidade é sempre mais estranha que a ficção, o documentário The Imposter mostrava como há sempre margem de manobra para ir mais além do que a própria imaginação.
The Hole in the Ground, pequeno filme britânico de terror, também assenta nessa premissa. Sarah (Seána Kerslake) é uma recém-mãe solteira que procura recomeçar a sua vida num lugarejo qualquer na Irlanda, mas que rapidamente entra em parafuso quando o filho (James Quinn Markey) começa a comportar-se de forma diferente. De início ainda pensamos que pode ser tudo paranóia da mãe, afectada ainda pelo divórcio (violência doméstica?) e pela sugestão da vizinha que matou o filho defendendo que já não era ele, mas rapidamente o realizador Lee Cronin deixa-se de subtilezas.
Não há nada mais assustador do que crianças, estamos fartos de o saber. Saloios também são assustadores (alguém mencionou Fim-de-semana Alucinante), mas crianças são mais ainda. Quem é que ainda não viu O Génio do Mal? Isso deve-se ao facto de distorcer a normalidade, numa perversão de algo que temos como garantido de que é seguro. No entanto, The Hole in the Ground, antes do final, ainda há de jogar uma cartada final, introduzindo no esquema criaturas subterrâneas, que têm tanto do bodyhorror de Cronenberg quanto do horror cósmico de Lovecraft.
Mas The Hole in the Ground tem alguns problemas, começando logo pelo miscast de Seána Kerslake, que parece sempre demasiado nova para ser convincente no papel de mãe solteira traumatizada. Mas o pior são os buracos no argumento, especialmente aquele em que… há UMA CRATERA GIGANTE NO QUINTAL e ninguém fala dele, como se fosse uma coisa normal. Além disso, Lee Cronin até chama ao filme The Hole in the Ground, spoilando logo que aquilo tem algo a ver com o desenlace do filme, quando na maior parte do tempo anda em redor do tal síndrome de Capgras.
The Hole in the Ground é um filme simpático pelas suas ideias, mas já dizia a minha avó que mais vale cair em graça do que ser engraçado. O Cheeseburger não vale mais do que uma menção de rodapé.
Título: The Hole in the Ground
Realizador: Lee Cronin
Ano: 2019