| CRÍTICAS | Thelma e Louise

Quase trinta anos depois, Thelma e Louise continua a ser o grande filme feminista de Hollywood. E para quem acha que agora só existem filmes com heroínas, numa agenda da esquerda de implementar o marxismo cultural (seja lá isso o que for), aqui fica um desafio interessante: desde Thelma e Louise diga outro filme com duas mulheres de força como protagonistas. Diga um. DIGA UM!

Thelma e Louise é a história de duas amigas que vão passar um fim-de-semana juntas. Louise (Susan Sarandon) é uma empregada de mesa solteira, mas espírito livre, que não gosta de se limitar ao papel que a sociedade espera que ela desempenhe com humildade; e Thelma (Geena Davis) é uma doméstica abusada psicologicamente pelo marido, cansada de estar em casa enquanto ele chega demasiado tarde para quem vende carpetes. Por isso, decide fazer uma aventura derradeira e ir passar o fim-de-semana com a amiga a uma casa de campo, a pescar.

O problema é que a viagem começa logo a correr mal na primeira paragem que fazem. Num daqueles bares à beira da estrada onde o Patrick Swayze podia trabalhar, Thelma tem logo um encontro de frente com o patriarcado estrutural da nossa sociedade e as coisas nunca mais voltam a ser o mesmo. Louise acaba por encher um tipo de chumbo, as duas colocam o pé no acelerador e, de repente, Thelma e Louise é um road movie pelo sul dos Estados Unidos.

Já sabemos que nesta coisa dos road movies o mais importante não é o destino, mas sim a viagem. E basta ver o quão diferente se tornam aquelas mulheres no fim do filme (especialmente Geena Davis, que se liberta por completo do espartilho marital e dos abusos machistas) para perceber o quanto cresceram em tão pouco tempo. É claro que essa transformação tem custos e ambas vão ter que os pagar. Mas Thelma e Louise é um grito de emancipação feminina e o final é tão trágico quanto poético.

Thelma e Louise são duas mulheres num mundo de homens: Harvey Keitel é o polícia que as persegue (e o único que parece compreender que elas são vítimas das circunstâncias e não monstros amorais), Michael Madsen é o namorado de Susan Sarandon que lhes dá uma mãozinha e (um muito jovem) Brad Pitt é um desconhecido a quem dão boleia pelo caminho e que vai contribuir para o desflorar completo de Geena Davis. E Ridley Scott é o realizador, a grande fraude do cinema moderno, mas que tem aqui um dos seus melhores trabalhos.

Três anos depois de Thelma e Louise um curto remake de apenas 6 minutos e 15 segundos voltava a fazer-nos querer fugir com outras duas miúdas. Desta vez era a Liv Tyler e a Alicia Silverstone, no teledisco do Crazy, dos Aerosmith, que marcou uma década. E, entretanto, diga outro filme com duas mulheres com protagonistas tão libertador quanto este. Diga só um. DIGA UM! Ou então um filme com uma protagonista feminina que seja tão bom quanto um McRoyal Deluxe.

Título: Thelma and Louise
Realizador: Ridley Scott
Ano: 1991

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