The Vast of Night é um pequeno filme de ficção-científica, de baixo orçamento, que tem criado burburinho desde que estreou no Slamdance, uma das mesas do novo cinema indie. Rapidamente foi adquirido pela Amazon e, no streaming, continuou a acumular fãs e críticas favoráveis.
Com um título poético retirado directamente a William Shakespeare e uma estética reminescente da ficção-científica dos anos 50 (e da Guerra Fria, com as ameaças vermelhas do espaço) – e do Quinta Dimensão em particular -, The Vast of Night não se limita a ser um exercício estilístico ensopado em nostalgia. É também um excelente filme sobre ovnis, que faz lembrar igualmente Encontros Imediatos do Terceiro Grau, especialmente por ser também um filme sobre um avistamento e não sobre o que acontece após o avistamento.
The Vast of Night abre inclusive como se fosse um episódio de Quinta Dimensão, enquadrado no ecrã rectangular de um televisor antigo. Depois o episódio televisivo transforma-se no próprio filme, o que ajuda a distanciar-nos da actualidade e a mergulharmos nos anos 50, numa qualquer cidade imaginária do Novo México (olá Roswell), que para para um jogo de basquete universitário. The Vast of Night é assim uma experiência imersiva, quase como uma viagem no tempo, que nos atira para uma década que não vivemos, mas que conhecemos como a palma da mão graças ao cinema.
É então aó que somos introduzidos a Everett (Jake Horowitz), um carismático dj local, e Fay (Sierra McCormick), uma jovem trabalhadora da central de telefones que acaba de comprar um rádio gravador. Tal como as personagens de Aaron Sorkin, estas também são muito palavrosas e adoram falar a andar, enquanto a câmara os acompanha em longos planos sequência. Os planos chegam a ter mais de 10 minutos e até podem ser fixos, o que sublinha essa tal experiência de imersão, complementada por um desenho sonoro analógico, a que só falta o theremin para ser perfeito.
Graças a estas características, The Vast of Night acaba por distender o tempo, à medida que estranhos sinais se começam a fazer sentir. Primeiro são umas interferências no rádio, depois umas falhas no telefone… Tudo isso enquanto a cidade está em suspenso, a assistir à tal partida de basquete. Everett e Fay são os únicos acordados naquela espécie de sonambulismo colectivo.
No final, há o avistamento e é isso a própria experiência de The Vast of Night. Não há homenzinhos verdes, abduções ou guerras dos mundos, mas o fascínio é legítimo e chega a ser assombroso. The Vast of Night é um pequeno McBacon, daqueles em que abrimos a caixa e, surpresa!, está uma pérola lá dentro.
Título: The Vast of Night
Realizador: Andrew Patterson
Ano: 2019