Uma vez li uma entrevista genial ao D. Duarte de Bragança em que a jornalista, com alguma graça, lhe perguntava se ele via A Guerra dos Tronos. D. Duarte respondia que já tinha visto, mas que não achava piada, porque preferia filmes onde pudesse aprender algo. E apressava-se a explica que havia muitos bons filmes que eram “boicotados” em Portugal (se fosse hoje aposto que mencionaria a expressão “marxismo cultural”), dando o exemplo de A Espada do Rei, sobre como os portugueses “salvaram a independência da Tailândia”(sic). Claro que tive que ir desenterrar A Espada do Rei, que se tornou no meu novo filme favorito ainda antes sequer de o ver.
A Espada do Rei é uma grande produção tailandesa, com estrelas norte-americanas para lhe dar algum prestígio internacional. Está lá John Rhys-Davies, o Gimli de O Senhor dos Anéis, e Gary Stretch, um ex-boxeur e meio da série b. Tendo em conta a descrição do filme pelo D. Duarte, das duas uma: ou ele não o viu ou então ainda acredita no Pai Natal. É certo que há um português como protagonista, mas dizer que ele salvou a independência da Tailândia é… manifestamente exagerado.
Fernando da Gama (Gary Stretch) é então um soldado português, com queda para as artes marciais(!), que dá à costa do então reino do Sião depois do seu barco naufragar. Rapidamente, Fernando torna-se no braço direito do rei, graças à sua arte na garreia, em plena guerra de clãs.
No início de A Espada do Rei, uma mensagem alerta-nos que o filme é baseado em factos reais. De facto, o rei do Sião e o seu filho foram assassinados pela própria rainha, numa conspiração para colocar o seu amante no poder. No entanto, é muito pouco provável que as coisas tenham ocorrido como no filme. É que a motivação da rainha para matar o marido – e o filho! – é este ter cancelado um jantar romântico e uma noite de sexo(!).
Depois lá aparece Fernando da Gama a salvar o dia, num amontoado de clichés, maus diálogos e uma banda-sonora a escorrer azeite por todo o lado. Depois deste Happy Meal já não sei se quero ver o outro filme recomendado pelo D. Duarte e que também foi “boicotado” em Portugal. Só se foi boicotado pelo bom gosto.
PS – antes que me inundem de mensagens, fiquem sabendo que esse segundo filme recomendado pelo nosso rei é For Greater Glory
Título: The King Maker
Realizador: Lek Kitaparaporn
Ano: 2005