Pam Grier foi a rainha do blaxploitation, o género que, na década de 70, tinha a comunidade afro-americana como alvo. Aliás, Grier nem sequer chegou a ter concorrência, tendo ocupado o trono naturalmente, graças a Coffy e a Foxy Brown. E em 75, encerrava o seu reinado com Sheba Baby, a Pantera Negra do Harlem, que é oficialmente o seu último blaxploitation, se bem que depois ainda deu uma perninha em Mandigo II – A Revolta dos Escravos.
Os blaxploitation movies eram assim filmes feitos por negros para negros, que eram variações de outros géneros populares, mas dirigidos a um público-alvo específico. É certo que determinados sub-géneros tiveram uma projecção maior dentro dos blaxploitation (alguém mencionou os filmes de mulheres-na-prisão?), mas a maioria eram apenas filmes de kung fu, de cáubois ou de terror, mas com actores afro-americanos, calão das ruas e muitas guitarras wah-wah na banda-sonora.
Sheba Baby, a Pantera Negra do Harlem é assim uma variação do film noir, que tem ainda um outro twist: o de ter uma mulher como protagonista. Pam Grier já tinha ganho o seu estatuto e, por isso, dispensava apresentações. Talvez por isso, os símbolos do noir sejam rapidamente arrumados na gaveta ao fim de 15 minutos, entrando o filme num piloto-automático tão formuláico quanto preguiçoso.
Pam Grier é então Sheba Shayne, uma detective privada que regressa à sua Louisville natal para ajudar os pais contra uns agiotas, que fazem pressão para que ele lhes venda a sua loja de penhores. Há ainda uma tentativa tímida de emancipação feminista, com Sheba a recusar qualquer estereótipo de género “só porque é mulher”, mas também isso é rapidamente arrumado na prateleira. Tudo o resto é apenas o habitual encadeamento de sequências de acção.
Sheba Baby, a Pantera Negra do Harlem é um passo atrás quando comparado com Coffy ou Fox Brown (e é impossível não fazer a comparação), com menos acção (ou, pelo menos, menos gráfica) e menos pele de Pam Grier. Mais do que um filme exploitation, Sheba Baby, a Pantera Negra do Harlem parece antes um episódio televisivo da enésima série policial genérica. Se não fosse o funk da banda-sonora e nem desconfiávamos…
Como se isso não bastasse, as sequências de acção são moles e sempre mais longas do que era desejável (será que alguém despediu o editor?), Pam Grier perde todas as lutas em que entra (mas que raio de heroína…) e, no final, aquela que deveria ser a grande sequência de acção – no mar, com perseguições de barco e jet-ski – mais não é do que uma variação em mau da sequência final de Academia de Polícia 3. Conhecem algum filme que seja comparado a Academia de Polícia 3 e que seja melhor do que um Happy Meal?
Título: Sheba, Baby
Realizador: William Girdler
Ano: 1975