Imaginem uma versão de Linha Fantasma, em que Daniel Day-Lewis costurasse um vestido amaldiçoado, que matasse quem o vestisse. Seria um filme genial, certamente candidato a todos os Oscares e a um Nobel, mas que infelizmente não existe. In Fabric é o que de mais parecido podemos contar, portanto.
De facto, In Fabric conta a história de um estranho vestido escarlate que parece ter vida própria e atormenta a vida de Marianne Jean-Baptiste, que o compra numa loja também não menos esquisita. No entanto, este é um filme que se define mais pela sua cinematografia do que pela sinopse.
A premissa pode ser pateta e o argumento tão desconexo quanto incompleto, mas o realizador Paul Strickland cria uma atmosfera perturbadora o suficiente para que In Fabric não seja um desperdício. Isto, aliado aos diálogos tétricos e a um absurdo que esperamos que não seja involuntário, tornam-no igualmente desconfortável.
Por entre cenas de sexo pouco convencionais, manequins com o período, fluídos corporais e milfs a masturbarem-se existe uma mensagem anti-consumista. A meio do filme o vestido muda também de mãos e é como se In Fabric recomeçasse. Essa segunda hora podia muito bem ser a sequela, mas percebe-se porque Strickland preferiu juntar os dois num só. É que depois de ver o primeiro, ninguém iria querer ver um segundo. Dificilmente vão apreciar este Happy Meal, mas prometo que nunca o irão esquecer.
Título: In Fabric
Realizador: Peter Strickland
Ano: 2018