| CRÍTICAS | Sisters

Mesmo após o documentário de Noah Bumbach, Brian De Palma continua a ser um realizador bastante subvalorizado. Para quem contava que De Palma ia permitir que se reavaliasse a obra do autor de Carrie, rapidamente as expectativas se esfumaram. Parece que esse momento ficará para quando morrer.

Entretanto, filmes como Sisters continuam a ser igualmente pouco vistos, por causa disso mesmo. Brian De Palma continua um pouco preso ao rótulo de discípulo de Alfred Hitchcock, como se isso fosse uma coisa má. Aliás, Sisters é o filme de Alfred Hitchcock que o próprio nunca realizou. Mas Brian De Palma não se fica pela emulação do mestre. Actualiza-o e torna-o seu.

Sisters explora a ideia de como duas irmãs gémeas podem ser tão diferentes, da mesma forma que o Bem e o Mal fazem os dois lados da mesma moeda. Margot Kidder (que faz das duas manas), que parece que está a fazer o mesmo papel da Maria de Medeiros em Pulp Fiction, tem uma irmã gémea siamesa que pode ou não ter morrido durante a operação de separação. A questão é: quem é que matou o seu one night stand (Lisle Wilson)? Quer dizer, só o saberemos se o seu ex-marido e médico (o sinistro William Finley, sempre de gola alta, bigodinho de vilão de novela sul-americana e óculos redondos mesmo à sociopata!!) não conseguir abafar o caso, claro.

Brian De Palma explora o thriller doméstico da mesma forma que Hitchcock. Coloca uma ordinária colunista do jornal local (Jennifer Salt) na busca de pistas, depois de ter visto o assassinato pela janela do seu apartamento (lembram-se de Janela Indiscreta?) e vai transformando o banal em assustador, fazendo de nós voyeurs privilegiados. Para isso, conta com o auxílio precioso de Bernard Herrmann, cuja banda-sonora é quase ela própria uma personagem também.

Este jovem Brian De Palma inaugurava aqui uma das suas imagens de marca, ao introduzir o split screen, mas não ficava por aqui. Filmava ainda um pesadelo em 16mm em homenagem ao A Semente do Diabo, experimentava uma série de enquadramentos inesperados e, só não vemos aqui a sua outra imagem de marca – o travelling prolongado – porque consta que o resultado desse plano não deu para aproveitar no fim. Para quem veja Sisters hoje, em 2020, pela primeira vez, vai ficar com a sensação de que é um filme algo datado e de que já viu isto várias vezes. É o que acontece quando os filmes são roubados vezes sem conta. Este McBacon é prova disso.

Título: Sisters
Realizador: Brian de Palma
Ano: 1972

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