| CRÍTICAS | Piercing

Nicolas Pesce deu-se a conhecer em Portugal com um pequeno filme de terror chamado Os Olhos da Minha Mãe, que apesar de ser interessante, acabou por ter mais imprensa por cá pelo facto de ter uma actriz portuguesa como protagonista. Entretanto, acaba de ganhar maior visibilidade comercial com o milésimo remake/sequela/whatever de The Grudge (a sério que ainda fazem disso?) e, correndo o risco de cair rapidamente no anonimato, convém repesar o filme que fez pelo meio. Chama-se Piercing, é baseado num livro de Ryu Murakami (o mesmo de Anjo ou Demónio) e é um pequeno filme semi-artesanal produzido pela Borderline, essa produtora de pequenas maravilhas do cinema de terror.

Acima de tudo, Piercing é um filme esteta, com um apuro visual requintado, com uma queda para o giallo. Aliás, esta tem sido uma espécie de tendência do cinema de terror independente dos últimos anos, de Coração Aberto a In Fabric. Mas do picador de gelo inicial à banda-sonora totalmente pilhada ao cinema italiano (incluindo os Goblin e o tema de O Mistério da Casa Assombrada), Piercing será o que leva a tarefa mais a sério.

Cristopher Abbott é então um pai de família que aluga um quarto de hotel e chama uma prostituta, para assassinar com um picador de gelo. Sai-lhe na rifa a bela Mia Wasikowska, que pede para ir à casa-de-banho e começa a mutilar uma perna com uma tesoura. De repente, já nada é o que parece e Nicolas Pesce vai sempre divertindo-se a criar expectativas e a tirar-nos o tapete de baixo dos pés no último instante. É um filme extremamente frustrante, que mistura o giallo com esquisitice japonesa, tudo isso coberto com a capa da normalidade aparente de David Lynch (que ficará orgulhoso deste filme, certamente), que apenas serve para tapar perversão e degeneração.

Piercing começa como a história perdida de 4 Quartos, mas rapidamente vai escalando para algo mais, incluindo aos poucos na equação desejos esquisitos, fluídos, gore, S&M e alucinação. No final, nem tudo vai fazer sentido, mas é uma viagem que enche o olho, com splitted screens, planos gerais da cidade feitos com miniaturas e outras opções estilizadas que aproximam Piercing do artsy (fartsy). Este Cheeseburger pode não servir para um Oscar, mas preferíamos ver Nicolas Pesce a fazer isto do que a fazer o enésimo remake/reboot/whatever de The Grudge.

Título: Piercing
Realizador: Nicolas Pesce
Ano: 2018

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