| CRÍTICAS | Creepshow – Contos de Terror

Os filmes-mosaico nunca costumam ser uma boa ideia, mas existe sempre uma excepção à regra e, neste caso, essa excepção é Creepshow – Contos de Terror. É óbvio que há aqui um pormenor que faz toda a diferença: o filme é todo ele feito pelo mesmo realizador, George A. Romero, e escrito pela mesma pessoa, Stephen King, o que ajuda a dar coerência e unidade ao todo. Mas não deixa de ser uma colecção de pequenos contos de terror.

Creepshow – Contos de Terror aproveita o recente boom do género nos anos 80 (por falar nisso, já viram esse monumento fundamental sobre o horror movie nos eighties que é In Search of Darkness?) para o cruzar com os livros de banda-desenhada de terror dos anos 50. George A. Romero filma-o como se fosse um livro de quadradinhos, recriando as tiras e tudo, enquanto que Tom Savini, um dos mestres dos efeitos-especiais manuais dessa década, se preocupa em dar um aspecto de horror pulp ao todo.

São cinco histórias no total e não são todas tão boas. A primeira, por exemplo, é a mais fraquinha e é apenas um monster movie com animatronics e tipos em maquilhagem e fatos de borracha, que foi um must dos anos 80. Mas histórias como a de Leslie Nielsen, em que enterra Ted Danson na praia até ao pescoço e aguarda pacientemente que a maré suba para a morte mais cruel (e inconsequente) de 1982, ou a última, em que E. G. Marshall é um maluquinho dos micróbios a viver num apartamento super-higienizado a ser atacado por baratas, são Stephen King na sua melhor forma.

Os melhores momentos de Creepshow – Contos de Terror são aqueles que lidam com medos naturais do nosso dia-a-dia (as baratas, o medo do escuro…), sem prejuízo para o uso de elementos sobrenaturais (meteoritos que caem do espaço com substâncias esquisitas, mortos-vivos…), o que lhe dá uma espécie de tom de fábula. E essas mensagens morais que cada conto transmite dá-lhe automaticamente um ar de Quinta Dimensão e não tanto o de horror movie de susto fácil.

Stephen King arrisca-se ainda na representação, noutro dos grandes momentos de Creepshow – Contos de Terror, ao interpretar um redneck a quem cai um meteoro no quintal coberto de meteor shit. Ao tocar nessa goma, King começa a criar musgo a uma velocidade brutal, tornando-se rapidamente num enorme líquen, que é tão nojento quanto perturbador. Há ainda um conto que tem H.P. Lovecraft escrito por todo o lado (com criaturas do Ártico que levam à loucura de quem os vê por não acreditar em tamanha maldade), cruzado com um assassinato conjugal, que mostra uma das principais influências de toda a obra de Stephen King.

Os anos 80 foram uma década do caraças para o cinema de terror, tanto pela ascensão dos nerds na indústria cinematográfica, como no avanço dos efeitos-especiais analógicos. (já vos disse para verem In Search of Darkness?). E George A. Romero, um dos grandes beneficiados disso (assim como Stephen King, claro), assinou aqui o seu melhor McBacon longe dos zombies.

Título: Creepshow
Realizador: George A. Romero
Ano: 1982

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