| CRÍTICAS | Django

Django Reinhardt, o pai do jazz europeu, foi um dos grandes guitarristas de todo o sempre, tendo redefinido completamente a abordagem à guitarra. E tudo isso com uma mão esquerda deficiente. Foi ele que Sergio Corbucci quis homenagear, em 1966, quando baptizou o seu herói super-violento de Django.

Django é um filme de tanta violência que acabou proibido em vários países. Nos outros onde estreou, o sucesso foi exponencial. Na Alemanha, por exemplo, a maioria dos western spaghetti que vieram a seguir foram traduzidos para títulos sensacionalistas com Django, para tentar capitalizar o nome. Na Itália, berço do género, foram feitas milhentas sequelas e spin-offs, oficiais e não-oficiais, para não falar da djangoexploitationi, com heróis chamados Cjamangos, Durangos e Shangos(!). Mais tarde, Tarantino e Takashi Miike também prestariam o seu tributo a Django, com as suas próprias versões americanas e japonesas.

Django (Franco Nero) é então a enésima variação do forasteiro sem nome que chega à cidade para impor ordem e respeito, um tema clássico do western, mas que os italianos foram buscar directamente a Yojimbo – O Invencível. A diferença é que este tem uma particularidade algo bizarra. Além de vestir o uniforme da União, Django arrasta atrás de si… um caixão (Samuel Úria fez uma canção a partir daí).

A outra particularidade de Django é que, ao contrário dos outros western spaghetti, este troca o deserto pela lama. Enquanto que os seus primos são sempre filmes abrasivos, com o sol a bater de chapa, de rostos suados, queimados e agrestes, Django move-se (arrasta-se é a palavra ideal) pela lama, numa cidade que parece ter sido varrida por uma inundação. A lama é tão opressiva que no final do filme temos que ir dar um banho para tirar a porcaria debaixo das unhas.

Django vai então carregando o seu caixão quando encontra uma prostituta (Loredana Nusciak) prestes a ser executada pelos mexicanos. Depois de a resgatar, Django leva-a para o lugarejo mais próximo, onde se refugia num saloon e envolve-se numa peleja entre os mexicanos e um barão local (José Bódalo) – porque, na boa tradição do género, o filme situa-se na raia mexicana -, que comanda um grupo de encapuzados tipo KKK. É aí que a coisa vai aquecer, porque para além de Django ser um pistoleiro exímio (que Robert Rodriguez iria tomar como inspiração para o seu Desperado), ele tem… [spoilers] uma metralhadora(!), algo que ainda não tinha sido inventado na altura, mas que não interessa para nada.

O bodycount é então enorme e faz com que Django seja um western spaghetti que se assemelhe a Rambo III e às suas matanças do porco. Além disso, há ainda prostitutas fustigadas com chibatinhas, orelhas cortadas, mãos esmagadas e muito mais crueldade gore. Tudo acaba assente em pratos limpos num showdown irónico num cemitério, que, como é inevitável, não deixa de lembrar O Bom, o Mau e o Vilão. Django é um dos grandes western spaghetti de sempre e só lhe falta uma banda-sonora mais capaz para se tornar memorável como a Trilogia dos Dólares de Sergio Leone. No entanto, o seu McBacon é das melhores coisas que pode encontrar lá para aqueles lados de Almeria.

Título: Django
Realizador: Sergio Corbucci
Ano: 1966

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