Um ano depois do sucesso de Mulheres Acorrentadas, o filme que basicamente define todo o sub-género das mulheres-na-prisão, Roger Corman repetiu a empreitada e voltou a colocar Pam Grier e Margaret Markov juntas em A Arena. No entanto, desta vez optou por recuar no tempo, transportando-as para o tempo do império romano, e por aumentar a dose, dando-lhes mais comparsas: as igualmente esculturais Lucretia Love e Marie Louise Sinclair.
As quatro são então um grupo de escravas capturadas em diferentes pontos do império romano (destaque para a tribo bem esteriotipada de Grier, em que só lhes falta os ossos no cabelo, e que estão sempre a tocar… música árabe(!)), levadas para um tipo (Paul Muller, um habitual de Jess Franco) que promove lutas de gladiadores. Claro que será apenas um pulo até as mulheres começarem também elas a lutarem entre si, para gáudio do público, tão cruel quanto machista.
A Arena é uma co-produção norte-americana e italiana, o que significa que é uma mistura entre o exploitation de série-b e os épicos low cost de espada e sandália que fizeram as delícias das matinés nos anos 70. Da parte americana, Corman enviou Steve Carver (ele mesmo, o autor desse filmaralhão que é McQuade, o Lobo Solitário) para realizar, ele que se estrearia aqui atrás da câmara; e da parte italiana veio Joe D’Amato, especialista no peplum, que acabou por ficar oficialmente não-creditado.
Quanto ao filme, é tudo aquilo que a sinopse promete. Um Spartacus no feminino, com muita exploração gratuita do corpo das actrizes (se bem que, ao contrário de muitos filmes do género, não há aqui lesbianismo… e isso é surpreendente) e, claro, muita catfight. A diferença é que aqui estão quase sempre numa arena de gladiadores, equipadas com espadas e lanças.
A Arena tem ainda tempo para lançar umas farpas anti-racistas, abrindo definitivamente as portas para a Pam Grier, heroína do blaxploitation. Grier há-de acusar Jho Jhenkins, o gladiador negro com quem vai para a cama, de assimilação, e o contexto esclavagista romano ecoa todos esses séculos até ao racismo sistémico ocidental que se perpetua, nesse caso muito específico, nos Estados Unidos. E há de dar uns sopapos bem dados na boca de Marie Louise Sinclair, depois de ela dizer que não há nada a lamentar na morte de Jhenkins na arena por “ser só um negro”.
A Arena é assim, de longe, o melhor filme de mulheres-na-prisão, que é ainda um blaxploitation, um peplum e um óptimo série-b, que junta uma série de pessoas talentosas nestas produções económicas. O seu McBacon dá, por exemplo, 15 a 0 a Mulheres Acorrentadas, que é o seu antecessor espiritual.
Título: The Arena
Realizador: Steve Carver
Ano: 1974