Seis homens entram numa carruagem de comboio e ficam fascinados com o baralho de tarot de um deles (Peter Cushing). A maioria está curiosa com as promessas de vidência do misterioso passageiro, mas um (Cristopher Lee) odeia tudo o que tenha a ver com aldrabões, vendedores da banha da cobra e Svengalis de meia-tigela. Seja como for, cada um dos cinco vai aceitar que o Dr. Schreck (assim é o seu nome, que inglês significa pertinentemente Dr. Terror, como o título original do filme) lhes leia o futuro nas cartas.
Está assim lançada a premissa de O Comboio Fantasma, num curto, mas eficaz prólogo, que abre assim espaço a cinco diferentes histórias em que o fantástico e o paranormal é rei e senhor. Em comum, todas elas têm o mesmo: a morte como resultado final.
Há assim uma clássica história de lobisomens, um conto de vampiros com um twist final, uma planta mutante com vida própria, uma canção vudu que traz a maldição a quem a reproduz (ou será que são só os donos da cantiga a reclamarem os direitos de autor?) e uma mão decepada, que persegue Cristopher Lee. Esta é, claramente, o melhor dos cinco episódios. Lee é um crítico de arte, que atropela um pintor com quem mantém uma rivalidade profissional e lhe decepa uma mão, que o há de perseguir como uma assombração. É ainda um episódio com uma mensagem moral tipo cá se fazem cá se pagam, como nos melhores episódios de Quinta Dimensão ou Alfred Hitchcock Apresenta.
No final, os episódios ainda se voltam novamente a cruzar, num epílogo que também tem um twist, mostrando uma preocupação pouco comum em fazer com que O Comboio Fantasma não seja apenas uma antologia de histórias de terror como a maioria dos filmes-mosaico. São esses pequenos pormenores que fazem de O Comboio Fantasma um filme que sobressai de outros semelhantes, inclusive dentro da própria Amicus, a produtora rival da Hammer que, nos anos 60, marcou o panorama britânico do cinema de terror.
O outro pormenor de O Comboio Fantasma que merece relevo é o leque de actores. Já falámos acima de Peter Cushing e Cristopher Lee, mas há ainda um muito jovem Donald Sutherland, que se estreava aqui no grande ecrã. E, verdade seja dita, o seu segmento é o segundo melhor do filme. Por tudo isto e mais algum – como a tal canção vudu, que nos faz ficar apreensivos quando começamos a bater o pé ao ritmo da batida. Será que também vamos morrer? Se vamos, ao menos que seja só depois de terminarmos este McBacon.
Título: Dr. Terror’s House of Horror
Realizador: Freddie Francis
Ano: 1965