| CRÍTICAS | Taran e o Caldeirão Mágico

Conhecido na maioria das vezes como o filme que a Disney quis esquecer (um mito urbano desfeito pela enésima vez pelo simples facto de estar disponível em streaming no Disney+), Taran e o Caldeirão Mágico pode ter sido um flop de bilheteira, mas merece algum crédito além disso. É que foi o primeiro desenho-animado da Disney a não ter canções e foi a sua primeira empreitada por um mundo mais negro e adulto, piscando o olho a crianças mais velhas.

Taran e o Caldeirão Mágico surgiu em 1985, numa altura em que os filmes de fantasia estavam em alta. Era o ano de A Lenda da Floresta, História Interminável tinha estreado à pouco tempo e até Excalibur tinha sido um sucesso de bilheteira. Por isso, apesar de Taran e o Caldeirão Mágico adaptarem os dois primeiros livros da pentalogia de Lloyd Alexander, As crónicas de Prydain, é a O Senhor dos Anéis que o filme parece.

Aliás, o primeiro acto de Taran e o Caldeirão Mágico é um rip-off desavergonhado da trilogia de Tolkien. Aliás, contra que Ralph Bakshi foi mesmo convidado a realizar o filme, após o sucesso da sua adaptação animada de O Senhor dos Anéis, mas o autor de Wizards (vénia) recusou, por considerar que o seu estilo era demasiado pesado para os standards da Disney.

Em vez de um anel para controlar o mundo, temos então um caldeirão negro(!), que aprisiona o espírito de um deus demoníaco. O malvado Rei Chifrudo (voz de John Hurt) procura-o para reforçar o seu poder e, por isso, envia ao seu encalço os nazgul…, perdão, os gwythaints. A chave para encontrar o caldeirão está num porco(!) com poderes oraculares, que um velho sábio tipo Gandalf esconde. Taran (voz de Grant Bardsley), um jovem desajeitado mas com aspirações a se tornar num corajoso guerreiro, é incumbido de proteger o porco, mas assim que ele acaba nas mãos do Chifrudo, Taran vai ter que o salvar como pode. Felizmente, juntará forças a uma criatura que fala como o Gollum(!), a uma princesa que tem uma bola de luz e um velho bardo.

O primeiro acto é assim uma versão genérica de O Senhor dos Anéis, como aqueles dvd manhosos que encontramos à venda no Jumbo a 1 euro que são cópias descaradas dos sucessos da Disney, tipo o Ratatoing. Além disso, tudo se passa de forma demasiado apressada e cheio de coincidências. Quando o filme começa verdadeiramente, com Taran a fugir com o porco do exército do Rei Chifrudo, a coisa melhora, mas apenas ligeiramente. Pelo menos já não parece um rip-off do Tolkien. No entanto, as personagens continuam a aparecer e a desaparecer (há uma fada que segue o grupo sem qualquer razão aparente e que, às tantas, diz que está farto e vai à vida), o bardo é demasiado irritante e nem para comic relief serve e a bola de luz da princesa, que parecia poder vir a ser uma peça importante na aventura, também se há de eclipsar.

O que vale mesmo a pena em Taran e o Caldeirão Mágico é o Rei Chifrudo e as cenas em que aparece. De facto, é um vilão demasiado negro até para o próprio filme, com a sua própria theme song e um aspecto a fazer lembrar Skeletor. Quando utiliza o caldeirão negro para ressuscitar um exército gigantesco de esqueletos e cadáveres, a coisa faz lembrar a abertura da Arca da Aliança, em Os Salteadores da Arca Perdida, em que a animação tradicional da Disney se mistura pela primeira vez com CGI, de forma espectacular.

Depois hão de aparecer três bruxas (uma delas é uma cópia chapada da Madame Mim) que estão para Taran e o Caldeirão Mágico assim como as águias estão para O Senhor dos Anéis. Tivesse aparecido mais cedo e teríamos poupado este Happy Meal. Taran e o Caldeirão Mágico pode não ser o filme que a Disney tentou apagar, mas será certamente um dos que preferia não ter feito.

Título: The Black Cauldron
Realizador: Ted Berman & Richard Rich
Ano: 1985

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