| CRÍTICAS | The Man Who Killed Hitler and Then The Bigfoot

Durante anos, a luta pelo melhor título de um filme andou ali taco a taco entre O Despertar da Mente (o título original, claro) e De Tanto Bater o Meu Coração Parou. Depois, em 2017, surgiu um título que arrumou definitivamente a questão, não deixando qualquer margem de discussão sequer: The Man Who Killed Hitler and Then The Bigfoot.

Sejamos sinceros: com um título destes, quem é que não fica logo com vontade de o ver? Ainda para mais quanto o protagonista é Sam Elliott, o mais famoso bigode de Hollywood e, claro, o mentor de Patrick Swayze em Profissão: Duro (vénia à rectaguarda). Mas Sam Elliott não está velho? Está um bocadinho, sim. Então como é que consegue ir matar o Pé Grande? E esperem lá. Mas o Hitler foi morto? Pensava que ele se tinha suicidado.

No fundo, nada disso interessa muito, porque o que é realmente importante no filme é essa parte anterior: Sam Elliott está velho. The Man Who Killed Hitler and Then The Bigfoot é um filme sobre a passagem do tempo e sobre envelhecer. É um filme de metáforas, que não são nada subtis. Aliás, Sam Elliott passa o filme todo desconfortável a andar e, numa das últimas cenas, lá consegue tirar uma pedra do sapato. Estão a perceber o estilo?

Sam Elliott vive então uma vida solitária, entre os passeios com o cão e as idas ao pub local. O único amigo que lhe vemos é o irmão mais novo, o barbeiro Larry Miller. Sam Elliott está naquela altura da vida em que parece reavaliar todos os passos que deu até chegar a este momento e são vários os objectos com que se cruza que funcionam como as madalenas de Proust, disparando memórias antigas. São esses flashbacks que o levam até aos tempos de soldado na Segunda Guerra Mundial (Aidan Turner é a sua versão jovem), em que teve que abandonar a noiva, e em que acabou por se tornar num agente especial que… matou Adolf Hitler numa missão especial.

Ao mesmo tempo vão-se ouvindo relatos de mortes no Canadá, cuja explicação chegará pela mão de um agente do FBI e outro do Quebeque: há um Bigfoot à solta na floresta canadiana e liberta um vírus terrível que mata todos e qualquer ser vivo. Ver isto em 2021, com um novo coronavírus de letalidade altíssima à solta por aí, soa como presságio assustador. Enfim, Sam Elliott lá é convocado para ir despachar o bicho, numa cena altamente badass, em que lhe colocam ao dispor um arsenal gigantesco e ele escolhe that gun, that scope and this knife. Zoom rápido aos olhos. Música triunfal.

Sam Elliott há de mergulhar na floresta canadiana no encalço do bicho e The Man Who Killed Hitler and Then The Bigfoot podia-se tornar numa daquelas reflexões meditativas, como o Willem Dafoe em O Último Tigre da Tasmânia, mas o realizador Robert D. Krykowski despacha esta parte com grande economia narrativa, abraçando com todas as formas a costela série b do filme. O Bigfoot é apenas um tipo mal caracterizado num fato de peluche e os dois hão de se enfrentar corpo a corpo, como… um filme de kung fu. História verídica, nunca vos menti, pois não?

Depois há ainda tempo para um acto final, que une as pontas soltas e em que Sam Elliott retira a tal pedra do sapato. The Man Who Killed Hitler and Then The Bigfoot está então pronto para terminar, encerrando o seu arco narrativo perfeitinho, num filme com doses iguais de xungaria e de filme sério. É um war movie, um Logan, um mergulho na americana profunda e um série b despachado, tudo em doses iguais. E é um McBacon e o meu novo bom mau filme favorito.

Título: The Man Who Killed Hitler and Then The Bigfoot
Realizador: Robert D. Krzykowski
Ano: 2017

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