| CRÍTICAS | Verão de 92

O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes da vida.
Não sei quem disse isto – aposto que se for ver ao google irei descobrir que foi o Bob Marley, o Nelson Mandela ou o Einstein -, mas continua a ser a melhor descrição de sempre do futebol. É irracional, não obedece às razões da lógica ou à maioria das convenções socio-culturais, mas é um espectáculo sem igual, que aproxima todos, independentemente da origem, da classe social, do sexo ou da instrução.

Em 1992 aconteceu um dos episódios mais belos desde que a bola é redonda e é disputada por onze de cada lado. A Dinamarca era repescada para o Europeu desse ano, para substituir a Jugoslávia, afastada pela guerra civil em que estava mergulhada. Conhecidos por serem a selecção que melhor perdia (mais ou menos como nós, Portugal, que durante muito tempo fomos os melhores do futebol sem balizas), os dinamarqueses chegavam à Suécia apenas com uma semana de treino e, contra todas as previsões, acabariam por se sagrarem campeões.

A vitória foi tão imprevisível como a da Grécia, em 2004, ou mesmo a de Portugal, em 2016, mas esta teve um percurso ainda melhor. É como se alguém a tivesse escrito para, um dia, serem feitos filmes e editados livros sobre isso. Além da repescagem, a Dinamarca ainda vivia no rescaldo da reforma de Sepp Piontek, considerado o melhor seleccionador do país de sempre, e o novo treinador Richard Møller Nielsen continuava sem convencer ninguém. Nem sequer os próprios jogadores, até porque a estrela da equipa, Michael Laudrup, havia renunciado enquanto ele lá estivesse. Pelo meio, ainda perderiam o pilar do meio-campo, Kim Vilfort, que abandonou o estágio para ir visitar a filha de 7 anos, a braços com uma leucemia. E, na final, pela primeira vez não se confirmou a máxima futebolística de que são 11 contra 11 e no final vence a Alemanha.

Esse Verão de 92 era então uma história à espera de ser adaptada ao grande ecrã. Alguém duvida que, um dia, a história portuguesa em 2016 também vá dar um filme? O realizador Kasper Barfoed foi o responsável de dirigir a adaptação, com Ulrich Thomsen (que conhecemos de A Festa) na pele do seleccionador e pivot central de toda a epopeia. A coisa é meramente ilustrativa, os jogadores são bidimensionais e os jogos são reconstituídos com uma mistura de imagens em estúdio com found footage. Afinal de contas, Verão de 92 só tem dois objectivos: o de contar a todos os que não eram nascidos em 1992 como foi esse bonito episódio do futebol; e o de enaltecer junto dos dinamarqueses um momento de ouro da sua história desportiva. Ok, há um terceiro objectivo. O de cozinhar um Cheeseburger.

Título: Sommeren ’92
Realizador: Kasper Barfoed
Ano: 2015

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