| CRÍTICAS | Pacha e o Imperador

Quando surgiu a animação digital, a Disney sentiu o golpe em cheio. Pela primeira vez, o monopólio do mercado estava em perigo e a empresa do Rato Mickey entrou em choque, sem saber como reagir a algo a que não estava habituada. De repente, teve uma crise de identidade, que durou uma década. Nesta altura, a Disney lançou as suas animações tradicionais de menos sucesso, mas também as mais alternativas. Uma década que, tendo em conta a distância temporal, está na altura de redescobrir.

Pacha e o Imperador é um desses títulos. Kuzco (voz de David Spade) é o imperador do título, num qualquer reino da América do Sul. Kuzco faz lembrar Eddie Murphy, em Um Príncipe em Nova Iorque: um jovem com o mundo na palma das mãos, habituado a que tudo gire à sua volta, tendo em conta apenas a sua satisfação pessoal. Kuzco é assim arrogante e egoísta, que não se importa em destruir a vila de Pacha (voz de John Goodman) apenas para construir no mesmo local a sua casa de férias. No fundo, Kuzco é tão irritante quanto o próprio James Spade…

Depois há a conselheira Yzma (voz de Ertha Pitt), uma bruxa malvada que aspira ao trono e que lhe vai lançar uma maldição, que o transforma num lama. Por capricho do destino, Kuzco vai ver-se no meio da floresta, juntamente com Pacha, que o ajudará a regressar ao seu palácio e readquirir a sua forma humana, na esperança que o imperador, assim, poupe a sua vila. Obviamente que, no final, Kuzco vai aprender uma importante lição de vida, tornar-se mais humilde e optar por construir a sua casa de férias (bem mais pequena) num outro local.

O argumento de Pacha e o Imperador é totalmente bidimensional, longe dos dramas profundos de O Rei Leão ou A Pequena Sereia. Isso reflecte-se também na própria animação do filme, que é altamente minimalista. Apesar das personagens terem o selo de qualidade da Disney, no que diz respeito à fluência e ao pormenor das roupas e das expressões, os cenários são super-estilizados, longe da abordagem realista a que estamos habituados. Até a parte musical é simplificada, com a theme song de Sting a surgir apenas no fim e uma abertura a cargo de Tom Jones.

Pacha e o Imperador é um filme mais na tradição anarquista de Tex Avery ou dos Looney Tunes, em que Kuzco é simultaneamente o narrador que conversa directamente com a audiência e em que o argumento é movimentado por gags, as personagens esbofeteiam-se sempre que podem e as graçolas sucedem-se à velocidade da luz. É aqui que Kronk (voz de Patrick Warburton), o ajudante da malvada Yzma, ganha protagonismo, já que é o boneco mais engraçado de todos – um brutamontes ingénuo, que tem as melhores cenas do filme, incluindo uma em que trauteia (e improvisa) a sua própria theme song.

Pacha e o Imperador começa por nos ganhar pela novidade no mundo da Disney e terá sempre o seu lugar especial por ser uma excepção à regra nos filmes dos senhores do Rato Mickey. Contudo, é também um Double Cheeseburger que se esvazia muito mais depressa que todas as outras animações.

Título: The Emperor’s New Groove
Realizador: Mark Dindal
Ano: 2000

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