| CRÍTICAS | Ga, Ga – Glory to the Heroes

Estamos no século XXI, essa barreira temporal tão longínqua quanto presente, durante décadas de cinema. Numa realidade distópica alternativa sem lugar definido, mas que, pelo aspecto pós-industrial decadente, tanto podia ser em Manchester dos anos 80 como no Barreiro dos anos 90, o governo encontra uma solução para os seus prisioneiros. Coloca-los em naves e envia-los para reclamar planetas avulso. Quem regressar tem a liberdade restituída (fora as despesas inerentes(!)).

É assim que Scope (Daniel Olbrychski) é colocado numa nave e enviado espaço fora, até a um planeta qualquer aleatório. E, quando sai, parece que está na Terra, apenas um pouco mais pobre e miserável. Os locais recebem-no entusiasticamente, como mais um herói. Afinal, viajar no espaço pode não ser tão mau assim. Levam-no para uma pensão, dão-lhe dinheiro e vales de comida e deixam-lhe uma jovem prostituta (Katarzyna Figura) para usufruto. A cerimónia de consagração.

O que Scope não adivinha é que a tal cerimónia é apenas um evento público, em que esses heróis vindos do espaço são empalados numa estaca da grossura da minha perna em pleno estádio municipal. E que Ga, Ga – Glory to the Heroes é todo ele uma sátira ao egoísmo, à avareza, à ganância e ao sensacionalismo da televisão (e dos reality shows, se bem que, em 1986, ano em que o filme foi realizado, a televisão-espectáculo ainda era só uma miragem).

Ga, Ga – Glory to the Heroes é a terceira parte de uma trilogia de Piotr Szulkin, que nem tenta disfarçar o seu (super)baixo orçamento, sobre a decadência da civilização moderna. Normalmente, da Polónia, nem bons ventos, bem bons casamentos, já diz o adágio que eu acabei de adaptar à pressão. A excepção é o cinema, que só nos costuma dar coisas boas, de Polanski a Kieślowski e, mais actualmente, Pawel Pawlikowski. Szulkin é apenas mais um a ter debaixo de olho, com a sua ficção-científica-comédia-surreal (a descrição é de uma amiga, não minha). O McBacon é o ideal para começar este menu.

Título: Ga, Ga – Chwala Bohaterom
Realizador: Piotr Szulkin
Ano: 1986

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