| CRÍTICAS | A Rede

Em 1995, a world wide web era todo um admirável mundo novo. A internet era território virgem, à espera de ser desbravado por intrépidos conquistadores e criativos, incluindo os de Hollywood. Por isso, olhar para A Rede com 25 anos de diferença é recordar todo um tempo em que a net funcionava a impulsos de telefone, as disquetes tinham apenas 1 mega e 400 e encomendar uma pizza online parecia uma coisa extremamente inovadora e à frente do seu tempo. Contudo, mais surpreendente ainda, é ver que A Rede não envelheceu nem um pouco no que diz respeito à sua temática sobre a perda de privacidade e de segurança nesta transição da vida física para a digital.

A Rede é, assim, um filme sobre a forma como a internet (e a tecnologia em geral, já agora) molda a nossa percepção do tempo e do espaço e, em consequência, molda-nos enquanto indivíduos. Ou, de forma mais leiga, é um techno-thriller sobre uma mulher que se mete com quem não deve e vê a sua identidade ser completamente apagada do mapa. Essa mulher é Sandra Bullock, uma informática que vive uma vida solitária graças às potencialidades incríveis da net, e que certo dia dá de caras com um programa de hacking super-poderoso (e que, no fundo, é apenas um link que leva a um login(!)), que a leva ao encontro de uma rede de ciber-terroristas poderosos, os Pretorianos. Para a calarem, estes enviam ao seu encalço apenas um agente (Jeremy Northam), que depois de a seduzir com tudo o que aprendeu sobre ela na net (o filme favorito que mais alugou, por exemplo), falha a execução.

Esta rede terrorista de um homem só vai então utilizar novamente a internet para aceder aos seus dados pessoais e apagarem a sua vida física. Sandra Bullock vai assim ter que recuperar a sua identidade e, ao mesmo tempo, denunciar este esquema internacional, que tem interferido com a bolsa norte-americana, as viagens aéreas em solo nacional e mais umas coisas aleatórias apenas para mostrar o quão poderosos são estes Pretorianos.

A Rede é um thriller na boa tradição do mestre Alfred Hitchcock, em que os heróis são sempre personagens ordinárias falsamente acusadas de algo. Até há uma citação directa a Difamação, com Northam a tapar a cobrir a barriga de Sandra Bullock com um lenço da mesma forma que Cary Grant o faz a Ingrid Bergman. E, tal como alguns dos seus filmes (estão a ver Intriga Internacional, em que ninguém iria enviar um avião para matar alguém no meio do nada?), é necessário desligarmos o cérebro e não pensar muito no que está a acontecer para desfrutar, porque há buracos no argumento, decisões duvidosas e muitas coincidências no argumento. Toda a gente sabe que, no cinema, sempre que alguém acende a televisão está a dar no telejornal uma notícia importante para o desenrolar da história. A Rede bate esse recorde, quando Sandra Bullock acende uma televisão aleatória e dão, de seguida, três notícias sobre o seu caso.

Num misto de nostalgia e patetice xunga, A Rede acaba por entreter mais do que seria de esperar, levando-nos até ao fim sem grande fastio. É certo que não fazemos conta de o rever novamente nos próximos 25 anos, mas a verdade é que se manterá como uma boa cápsula do tempo sobre o que era a internet em 1995. E para nos lembrar que as questões de privacidade sempre estiveram lá, desde o primeiro dia, ainda nem sequer havia Mark Zuckerberg. Mas já haviam Cheeseburgers nessa altura.

Título: The Net
Realizador: Irwin Winkler
Ano: 1995

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