| CRÍTICAS | Raya e o Último Dragão

Talvez como forma de aproveitar e capitalizar o crédito acumulado pelo A Guerra dos Tronos, a Disney apostou tudo na temática dos dragões na sua nova produção. Raya e o Último Dragão é um épico espectacular que mistura fantasia e sword and sorcery com o imaginário cultural e místico do sudoeste asiático, se bem que depois o elenco é todo ele de nomes sino-americanos, também para apelar ao gigantesco mercado chinês.

A grande vitória de Raya e o Último Dragão é precisamente esse gesto fundador, que cria toda um universo do zero. Em tempos idos, humanos e dragões viveram pacificamente no mundo de Kumandra, até ter sido invadido por uns demónios que transformavam as pessoas em pedra. Os dragões uniram-se e sacrificaram-se para derrotar esse inimigo comum e os homens dividiram-se para sempre, numa rivalidade eterna para ver quem ficava com uma pedra mágica, que contém a essência de Sisu, o último dragão. Raya (voz de Kelly Marie Tran) é uma jovem guerreira que, perante o retorno dos demónios, vai tentar localizar Sisu (voz de Awkwafina), unir os humanos, derrotar o inimigo e restaurar a harmonia na terra.

É certo que nada disto é propriamente original e já o vimos um pouco espalhado por várias outras obras. No entanto, ao contrário do seria de esperar, os dragões aqui não têm nada a ver com os de Daenerys Targaryen, sendo antes mais tipo cães grandes e fofinhos, como o Falkor de História Interminável. Sisu é então uma mistura de Falkor com o estilo espirituoso e desbocado do Génio, de Aladino, e com as expressões faciais da Patti LaBelle(!). Além de ambientado no sudoeste asiático, Raya e o Último Dragão tem ainda a particularidade de ser uma aventura toda cheia de girl power, já que todos os protagonistas são do sexo feminino. Aliás, a vilã da contenda, Namaari (voz de Gemma Chan), é a primeira princesa má da Disney, e Raya é a primeira princesa que não canta. Sim, Raya e o Último Dragão não é um musical, algo que não acontecia desde Kenai e Koda.

Como qualquer filme fundador, Raya e o Último Dragão tem que perder todo um acto a contar a origem daquele mundo e a introduzir as personagens. Tendo em conta a vastidão de gente e de territórios pelos quais o filme vai passar, é um primeiro terço cheio de coincidências, que empurram sempre o argumento para a frente. Depois lá seguimos Raya, o seu armadilho de estimação e, posteriormente, a sua equipa de aliados (um ensemble muito estranho e aleatório, que inclui uma criança cozinheira(!), um bebé ladrão(!!) e a sua gangue de macacos(!!!) e o último dos vikings lá do sítio), numa espécie de aventura internacional, da qual James Bond não desdenharia. Aliás, o episódio no cantão de Cauda podia muito bem ser no mesmo sítio cheio de criminosos em que O Falcão e o Soldado de Inverno vão procurar o Barão Zemo, no terceiro episódio da série.

No entanto, Raya e o Último Dragão não deixa de ser um trabalho da Disney e, como tal, é um filme sobre a família, a amizade e, sobretudo, sobre a confiança. No entanto, não estamos habituados que a Disney seja tão pouco subtil. A forma que arranjam para passar esta mensagem é… repeti-la a cada 15 minutos de filme. Literalmente! Palavra a palavra!! Como se tivéssemos todos 7 anos. Talvez esteja a exagerar um pouco, mas torna-se tão irritante que, às tantas, já não há paciência.

Com uma animação irrepreensível, Raya e o Último Dragão cria um universo novo, que, dependendo da reacção do público, poderá vir a dar origem a várias sequelas. Para já, o Cheeseburger serve só mesmo para isso, como introdução a este novo universo. Esperemos que, de futuro, o argumento seja significativamente mais inteligente ou que, pelo menos, não nos trate como se tivéssemos um défice cognitivo.

Título: Raya and the Last Dragon
Realizador: Don Hall & Carlos López Estrada
Ano: 2021

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *