| CRÍTICAS | Supernova

Se os filmes representam a época em que foram feitos, então, num futuro mais ou menos longínquo, quem for analisar a produção cinematográfica de 2021 vai perceber na perfeição o que foi a vida durante a pandemia: deprimente, desanimador e angustiante. Ora vejamos os filmes que estrearem no último mês: prova a) O Pai, prova b) Blackbird – A Despedida e prova c) este Supernova.

Tal como esses dois outros títulos, também Supernova é sobre o fim da vida e a morte que se aproxima. Neste caso, é Stanley Tucci, que está a entrar no último estágio de uma doença terminal que o vai deixar demente e que, antes que deixe de reconhecer o seu namorado (Colin Firth), decidem fazer uma última viagem, onde vão passar por sítios marcantes da sua relação e encontrarem-se com entes queridos. A estrutura é a do road movie, mas rapidamente o alcatrão desaparece da equação, porque não é preciso uma estrada para se fazer este tipo de viagem.

Supernova é assim um pequeno filme a dois, um filme de actores com dois grandes nomes da representação. Ter Tucci e Firth como protagonistas de Supernova facilita em muito o trabalho do realizador Harry Macqueen, que assim só tem que lhes dar espaço e espessura. E é isso que permite ao filme crescer e levar-nos consigo em viagem. Porque estas são personagens tridimensionais, com um passado e um presente, e não apenas actores que estão a representar bonecos, dos quais nunca conseguimos uma suspensão da descrença total.

Assim, Supernova constroi-se tanto a partir do que as personagens dizem, como da forma como olham uma para a outra ou dos gestos que tomam. É um filme feito de pormenores, que aborda um tema duro e sério, mas que nunca resvala sequer para o melodrama de faca e alguidar ou para um sensacionalismo emocional gratuito. Ao contrário de O Pai, não vai buscar as ferramentas de outro género para abordar o tema da morte (no filme de Anthony Hopkins, eram os mecanismos do thriller que eram espoletados para entrar no mundo da sua demência por vir); mantém-se dentro dos códigos do drama familiar e sentimental, como expectável, mas sem ser maniequista ou redutor. E isso consegue-o com a honestidade e a sinceridade com que trata a sua história e as suas personagens. E só esse gesto, tão nobre quanto cada vez mais raro no cinema contemporâneo, vale o McBacon.

Título: Supernova
Realizador: Harry Macqueen
Ano: 2020

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